domingo, 10 de agosto de 2008

Uma pedrinha jogada nas águas calmas


Já faz muito tempo desde a última vez em que aqui estive. Apenas uma constatação e um fato, não uma reflexão. Muitas idéias ficaram para trás. talvez um dia, cada uma delas ressurja. Quem sabe!?

Estou ouvindo Dead Can Dance (DCD), brilhante banda dos anos 80 que ajudou a formar o caminho do estilo World Music. Com muita criatividade, coragem e competência. Tudo culminado em absoluta e profunda beleza.

As águas calmas são os momentos que vivem nossa família nos últimos meses, desde a morte da Dolly, nossa cadela mais querida.
É incrível como nós, seres humanos, buscamos construir à nossa volta, lugares onde se viva com tranquilidade, paz e amor. Buscamos também situações e relacionamentos que nos tragam alegria, felicidade, amor e segurança. Com o tempo e a habilidade adquirida chega-se em situações quase ideais, que na maioria das vezes estão refletidas no lar, no grupo de amigos e com sorte (ou alguma outra coisa) no trabalho.
Quando chegamos em uma situação de paz, prazer e uma leve excitação, não queremos mais sair dela. É muito confortável, maravilhosa. Por que quereríamos sair, ir para o desconforto, a tensão, o estresse, a raiva, os desafios enfim.
Por outro lado, parece que não criamos ou conquistamos muitas coisas de valor numa situação de tranquilidade e conforto muito grande. parece ser uma situação em que as coisas vão se tornando velhas e estagnadas, onde não há muito lugar para o novo, o desafiador e o criativo. Será mesmo!!!?
É uma idéia a se aprofundar, a se explorar com cuidado e coragem.

Bom, mas voltando ao tema, a pedrinha é o novo membro de nossa família. Nossa, algo novo. Isso pode ser muito perigoso e estressante. Pode ser desafiador. Quem é ele?
Bela (seu nome), é uma cadelinha (miniatura) Teckel (como a Maíra não gosta muito de escutar) ou Salsicha, para todos entenderem.
Chegou com 50 dias de vida e com um tamanho físico (20 cm) que não diz muito ou absolutamente nada sobre sua energia de vida, seu ímpeto pelo novo, seu espírito curioso, irriquieto e desejoso de todas as atenções, todos os afetos e todas as meias e tênis também.
Com um temperamento de cachorro líder, tende a ser dominador e manipulador das atenções, na tentativa de obter a satisfação de todas as suas carências e desejos. Nossa parece um ser humano.
É preciso lidar com cuidado nesse início de convivência, caso contrário ela se tornará o líder da casa toda, um monstro egoísta e faminto de tudo e todos. (Nossa, parece o ser humano). Um pouco (ou muito) de indiferença é bastante saudável neste caso. Uma boa dose de paciência, firmeza e falta de pena, também.
Mas, mesmo o mais paciente e o mais firme não deve mudar muito seu temperamento, que vai permanecer tal como é e vivenciar sua vida com as experiências de seu dia-a-dia.
Estas a levarão ao seu destino canino, que é alegrar seus donos e torná-los mais suaves e de bem com a vida, se estes dela cuidarem com carinho, respeito, disciplina e firmeza.
Confesso que é uma tarefa árdua para mim. Algumas vezes penso em desistir dela, devolve-la, para não precisar sair da minha vida segura, bem organizada, agradável, previsível e, eventualmente, morna e tranquila demais. Estagnada! Talvez não ainda. Mas, passiva e meio sem graça, talvez. Como isso é possível quando se tem tudo?
Parece que o mais gostoso que a vida pode nos oferecer, só acontece com esforço, suor e, eventualmente, lágrimas.
Só através de desafios e obstáculos, conseguimos acessar nossas profundezas e encontrar nossas melhores qualidades, a criatividade, o amor verdadeiro (incondicional) e a força de vontade para viver mais um dia de coisas novas para apreciar, aprender ou desenvolver.
Quanto mais nos aprofundamos em nosso íntimo, mais próximos estamos de nossa parte divina, onde todas as dúvidas e medos deixam de existir e tudo se esclarece.
Às vezes um filhote, humano ou não, carregando toda aquela energia vital de quem tem tudo a aprender e para quem tudo é novidade, bonito e desafiante, pode nos mostrar como as coisas são de fato. Longe de nossas máscaras e filtros de sobrevivência.
Os filhotes ainda estão mais próximos do lado de Lá e mantém sua pureza de intenções e um contato muito forte com seu íntimo. Para eles não existem ainda os medos, as preocupações, nem os preconceitos.
Durante toda nossa vida, por mais que soframos, caiamos ou nos desviamos de nosso íntimo, sempre mantemos um pequeno vínculo, uma pequena conexão com este. De modo que, vez por outra, com esta ou aquela experiência (com os filhotes, por exemplo), entramos em contato mais diretamente com nossa parte mais pura.
Por isso, nos alegramos tanto, gostamos tanto e queremos guardar aqueles momentos para sempre.
Mas, os momentos são apenas isso, instantes fugidios de tempo. O máximo que podemos fazer é vive-los intensamente,buscando nos aprofunadar nas qualidades mais puras de nosso íntimo.

Seja bem vinda Belinha. Sua presença veio para sacudir e colorir um pouco mais a existência de minha família.

Beijos e paz profundos a todos.