sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Viagem

Olá amigos do coração! Aqui mais uma vez com algumas palavras que talvez façam algum sentido em algumas cabeças.
Embalado pelo som ambiente de Jean Michel Jarré (Geometry of Love), este já sessentão músico especialista em música climática, escrevo este registro com algumas reflexões que, senão completamente verdadeiras, bem próximas de alguma verdade, com certeza, estão.
Como se diz em alguns textos, a ficção é uma invenção da falta de imaginação.
Assim sendo, ....


De repente ele acordou. Mais uma vez, como já acontecia há algum tempo, com aquela sensação esquisita de sonho e realidade. Estava desperto, tinha certeza, pois percebia todos os sentidos em alerta. Ainda sentia aquela sensação de que algo diferente do "normal" estava ocorrendo. 
Era uma noite escura, sem lua, mas aos poucos, se acostumando com a falta de luz, seus olhos começaram a enxergar melhor.


Curiosamente estava sentado em sua cama, com as pernas esticadas. Ficou surpreso, mas não muito, pois não era a primeira vez.
Começou a observar os detalhes de seu quarto aparecendo lentamente e cada vez com mais definição. Ali estavam o chão de madeira, seu computador de mesa, seu teclado e sua cadeira de trabalho, próxima à sua escrivaninha.
Sua mente então, começou a lhe jogar alguns pensamentos esporádicos e erráticos, mas ele não queria focar neles, apenas curtir o momento. Senti-lo. 
Já havia passado por aquilo e não queria estraga-lo deixando o medo ou a ansiedade se apossarem dele. Ele já conseguia controlá-los um pouco.


Então, com um pouco de receio, lentamente começou a se virar para trás com as mãos apoiadas e as pernas esticadas em seu colchão. Foi identificando as coisas que sabia que iria ver, seu teclado, a luminária no criado-mudo, o rádio-relógio e seus números piscando em verde, seu armário de livros e, finalmente, seu travesseiro.
Então, sentindo um frio característico na barriga, percebeu (novamente) que seu travesseiro não estava sozinho, havia algo mais lá. Algo que não conseguiu identificar de imediato.


Após o choque inicial, foi identificando cada vez mais que apoiado sobre seu travesseiro repousava suave e tranquilamente, nada menos do que sua cabeça com seus olhos fechados, seu semblante tranquilo e sua boca semi-aberta respirando tranquilamente.
Sua cabeça e seu tronco, apareciam deitados atrás de si mesmo no colchão. 
Mas como!!?? Era sempre a questão que explodia em sua mente. Não deu bola para ela. Deixou que as coisas fluíssem naturalmente. Seu coração começou a diminuir seu ritmo e a tensão em seus músculos do pescoço começou a suavizar.
Como já havia passado por aquilo antes, conseguiu se manter equilibrado, mais ou menos tranquilo, evitando a saída brusca daquele "estado".


Vibrou internamente um pouco, com sua vitória. Tinha "saído" mais uma vez e agora se preparava mentalmente para dar os próximos passos.
Não sabia o que podia fazer ou o que iria acontecer. Tentou fazer o mais simples, sair da cama, dar alguns passos.
Ao pressionar as mãos no colchão para tentar se mexer e girar as pernas, sentiu uma coisa estranha. A força que fez para sair dali foi desproporcional e suas mãos "afundaram" um pouco no colchão, fazendo com que perdesse o equilíbrio momentaneamente.
Levou um pequeno susto, mas suficiente para seu coração disparar e sua barriga sentir. Esperou um pouco e respirou fundo lentamente algumas vezes. Se recuperou e pensou que tinha que estar atento àquele tipo de coisa, pois era provável que acontecesse novamente e ele não queria se perder novamente.


Conseguiu finalmente se girar com as pernas e colocar os pés no chão. Ao faze-lo, sentiu-se como que se "descolando" de suas pernas. A sensação de "descolamento" foi como uma mistura de formigamento com uma variação térmica, de quente para frio. Tremeu um pouco, mas conseguiu sair. Era algo novo e muito estranho, como todo o resto. 
O chão estava frio, portanto sentia mais ou menos as mesmas sensações, concluiu apressadamente. Ficou ali sentado um pouco olhando tudo à sua volta para ver se era mesmo o seu quarto. O que viu lhe deu a impressão exata de que sim, aquele era seu quarto.
Tentou se levantar vagarosamente, sem muita força. Ergueu-se um pouco desequilibrado, mas conseguiu ficar ereto. Ao observar ao seu redor, olhou para sua cama e viu claramente que sim, "aquele" na sua cama deitado era ele mesmo. Ele agora era composto de dois "corpos". Ocorreu-lhe, então, uma questão estranha, como e onde estava sua consciência??! Aqui, ali, acordada, desperta ou adormecida!!
Muito estranho, completamente irreal. No entanto, tinha certeza de que estava acordado, consciente. Essa sensação era forte, clara e bastante intensa. Agora que tinha pensado nisso, percebeu que sua mente estava de um jeito um pouco diferente do que sempre. Mais atenta, mais focada e mais clara. Talvez fosse a "adrenalina" do momento.


Decidiu se movimentar um pouco. Começou a girar seus braços em torno de si mesmo de um lado para o outro, com as pernas fixas no chão. Era como um exercício de criança. Sentiu mais uma vez sua leveza, a frescura do ar e começou a adquirir o controle sobre a força devida para realizar esta tarefa. Ficou feliz por sua pequena vitória.
Começou então a caminhar pelo quarto, sempre lentamente, como que reaprendendo. 
Estava ficando mais entusiasmado e tranquilo e queria explorar mais. Pensou que podia andar pela casa ou até sair dela. Essa foi uma ideia muito empolgante e, ao mesmo tempo, amedrontadora para ele. 
O que iria encontrar lá fora? Pessoas como ele, fazendo o mesmo!? E os que estavam apenas dormindo, como se mostrariam!? Tinha muitas perguntas em sua mente.
Decidiu sair do quarto, dar uma volta interna, ver sua família.
Andou resolutamente até a porta, talvez com muita força para as novas condições. Quando foi pegar na maçaneta, seu impulso foi muito intenso e o movimento de sua mão fez com que ela passasse pela maçaneta e pela porta.
Na verdade, sua desapareceu por completo, pois tinha atravessado a porta. Ao se ver com uma parte do braço visível e a outra (sua mão) invisível levou um susto muito grande. Seu coração disparou, sua nuca arrepiou, sua respiração travou e....ele voltou.


Despertou em sua cama novamente, como de um sobressalto, uma queda livre, um pouco tremulo. Tentou se acalmar e começou a entender o que tinha acontecido.
Ele tinha voltado antes do momento que queria, pois tinha levado um susto grande.
Mas ele tinha saído, tinha conseguido. Aquela era uma nova realidade. E ele iria explorá-la novamente com certeza.


Agradeceu mais uma vez esta oportunidade de tirar um pouco o Véu de seus olhos. Relaxou um pouco e tentou dormir novamente.
Não sabia se ainda iria voltar hoje ou não, mas não importava mais. Já sabia que conseguiria novamente.


Bom, bom, bom amigos esta foi uma história do Sr.V. E ele vai voltar, porque tudo volta e porque eu quero.
A realidade é uma coisa muito estranha. Muitas vezes temos certeza de algo, enquanto que em outras situações aquela certeza se desvanece completamente. De certo só existe o momento, o resto é o imponderável.


Paz, amor e Luz a todos nós neste novo ano.







segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Transformações

São 14:33, o sol está presente com intensidade de verão, embora no inverno. A belíssima música de Harold Budd & Clive Wright (pensive aphrodite) ilumina o caminho e constrói o clima que propicia a vida introspectiva.
Neste nosso mundo, uma de nossas percepções mais profundas e marcantes é a de que tudo tem um começo e um fim. 
É uma percepção que vai sendo construída ao longo de nossas vidas, conforme vamos prestando mais atenção aos acontecimentos ao nosso entorno e às pessoas de nossa convivência.
Ela vai aparecendo com força cada vez maior conforme a maturidade e a consciência das coisas sutis vai chegando.
Ela nos mostra a impermanência material, mas também, num outro nível, nos mostra a transformação de uma coisa em outra. 
Por que na natureza, aparentemente, nada desaparece, tudo muda constantemente e se transforma em algo diferente, que vai servir para algum propósito.

Assim, era uma vez um ser que habitava um mundo do qual muito gostava e no qual se sentia muito feliz, muito seguro, muito aconchegado.
Não havia nada neste mundo que o fizesse infeliz, insatisfeito, ansioso e, muito menos amedrontado. A temperatura era sempre amena, sua fome e sede sempre saciadas e ele era livre para ir e vir dentro de seus limites.
Era como se estivesse no paraíso, num lugar onde não havia nada para ameaça-lo, desafia-lo ou pressiona-lo.
Ele podia pensar, meditar, se movimentar e realizar à vontade. Podia ser plenamente o tempo todo. Vivia no presente naturalmente.
Se sentia confortável, aconchegado, acarinhado e amado sempre. Era um mundo (quase) perfeito. Mas ele tinha uma consciência, uma percepção das coisas e ela se aprofundava com o tempo. 

De repente, percebeu que existia, que estava ali há algum tempo e isso lhe deu a auto-consciência e a semente de uma dúvida.
Não sabia de onde tinha vindo nem para onde estava indo. Não sabia quanto tempo aquilo iria durar. Essas reflexões começaram a ganhar força e ele começou a se aprofundar nelas, a se preocupar. 
Não queria sair dali, queria ficar para sempre. Isso gerou uma certa apreensão, que se transformou em ansiedade e medo.

Começou a sentir movimentos e variações externas que não existiam antes. De repente, o ambiente começou a ficar "pequeno", estreito. Começou a incomodá-lo levemente.
O que é isso, pensou. Estava tudo tão bom! O que está acontecendo!? Eu não compreendo, estou me sentindo diferente, incomodado.
Começou a aparecer um sentimento de urgência no "ar", um sentimento de "algo prestes a acontecer".
Mas, mesmo com todos esses sentimentos e preocupações, quando conseguia ir mais fundo em seu ser, como costumava fazer antes, ele ainda percebia aquele entorno de carinho, de amor e de segurança. 
E isso lhe dava sempre uma sensação de alívio e de esperança de que "o que estava por acontecer era algo bom".

Após mais algum tempo, sensação que ele não tinha antes, percebeu que não era mais possível estar bem, ficar em seu ser, na plenitude. 
Os movimentos e variações das condições ambientais começaram a ficar muito extremas. Seu mundo, seu paraíso se tornou um Caos e não era possível mais permanecer. Era preciso mudar, buscar um outro lugar, uma nova morada, um outro refúgio, uma outra vida.
Sua apreensão aumentou bastante e percebeu claramente, intensamente, que algo grande e amedrontador estava "acontecendo".
Oh meu Deus, o que é isso!? Estou sendo empurrado, pressionado, sinto dor. Para onde estou indo, para onde!!? Quando isto vai parar.

Quando achou que não aguentava mais, sentiu todos os movimentos e pressões aumentaram e muito. Sentiu-se levado por alguma "força desconhecida"!!
Estava indo contra a vontade, mas ao mesmo tempo querendo. 
Percebeu então uma mudança na temperatura, para mais frio. Outra mudança na luz, uma luz muito forte começou a aparecer. Era o prenuncio da mudança, sentiu.
Após muita luta e esforço, sentiu-se saindo por uma "porta", uma abertura. Primeiro sua cabeça, depois seus ombros e braços e, então suas pernas. A dor era grande, os sentidos estavam totalmente em alerta.
Queria continuar a viver, seu instinto o ajudava.

De repente, sentiu-se apanhado e seguro. Por mãos como as suas, porém maiores.
Foi colocado em cima de algo grande e quente.
Percebeu que era bom, era aconchegante. Havia amor, mas de forma diferente. Sentiu-se abraçado, acarinhado e seguro.
Ficou um pouco mais tranquilo. Sabia que estava em um outro mundo. Que era diferente do seu, do qual já nem sentia mais falta.
Achava que poderia se dar bem ali também. mas precisava aprender novamente como sobreviver, como amar, como meditar, como ser pleno neste novo mundo.
Achava que teria ajuda daquelas mãos macias, delicadas e amorosas que o abraçavam.

Neste momento, sua passagem, sua transformação se completou e uma nova vida se iniciou neste nosso mundo impermanente, perigoso, desafiador e amoroso.

Amigos, que a paz profunda de seu interior possa ser alcançada em suas meditações.

Beijos fraternos e eternos.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A vida é bela!

Nesta manhã fria de maio, ao som de Schubert e de suas Sinfonias Inacabada (a número 8) e Grande (a número 9) recomeço depois de algum tempo. 
A sinfonia é inacabada, mas de tão bonita, ficou no catálogo do Schubert. Ainda bem, porque a música é bela e profunda. Tem uma intensidade que pode ser apreciada pelos mais sensíveis.




E por falar em sensibilidade e intensidade, gostaria de falar um pouco hoje sobre uma das experiências mais marcante, transformadora e formadora do caráter.
É uma daquelas em que o indivíduo se volta para dentro de sí de forma inevitável e onde revê alguns de seus mais sagrados conceitos de vida e de atitude. 
E, por conta de sua intensidade, é capaz de fazer com que o indivíduo perca completamente a consciência de sí mesmo, durante alguns segundos. Por isso mesmo, é uma experiência muito forte e importante na busca do ser por sua essência Maior, e na revisão de seus valores mais básicos.
Toda vez que perdemos o contato com nosso Ego, ou seja, perdemos a consciência de nós mesmos, por alguns segundos que sejam, diz-se (Muita gente boa, muito boa!) que entramos na nossa Essência maior, de onde não deveríamos ter saído.
Esses eventos transformadores devem ocorrer com frequencia em nossas vidas, mas como aprendemos a ser desatentos, não os percebemos. Assim, eles vão se tornando cada vez mais intensos, para que nós, surdos, cegos e arrogantes, possamos ou queiramos experimentá-los.


Chega de suspense. Neste caso, estou falando da experiência da dor, física ou emocional. Mas, calma aí, não estou falando de qualquer dor, dessas que a gente tem quase toda a semana, seja na cabeça ou em qualquer parte do corpo e que você se refere a ela como um incômodo. 
Me refiro àquela dor que, com sorte ou a ajuda do Cosmos, nos ataca poucas vezes na vida.
Aquela que quando acontece, faz com que você chore como uma criança e se dobre rapidamente como um canivete e caia no chão, sem chance de ajuda alguma naqueles instantes. Que, em alguns casos, é tão intensa que você dismaia, por que o organismo entende que dessa forma preserva melhor sua sanidade e segurança física.
Quando você não se lembra de nada, nem de sí mesmo, apenas foca na dor e no seu tempo de duração.
Aquela que, quando vem o alívio, você sente uma das sensações mais maravilhosas que esta existência pode te proporcionar. Esta passágem do sofrimento intenso para a sensação sem dor alguma, é também muito marcante. 


Essa é uma daquelas sensações em que nos sentimos muito humildes durante e logo depois, em que o EGO desaparece e leva alguns segundos para voltar.
Por isso mesmo, pode ser transformadora e espiritual. Infelizmente, nesse nosso mundo onde impera a força da Gravidade e da Inércia, o Sofrimento é um dos nossos maiores Mestres.
E veja que é bom que aprendamos com ele o mais cedo possível, porque ele é um Mestre muito zeloso, persistente e incansável.
Está sempre tentando mais um pouco enquanto não aprendemos alguma lição, sempre com uma forma diferente, mais intensa ou mais difícil.
Não há como nos desviarmos dele, a não ser tentando aprender sua lição, nos transformando interiormente. E, neste caso, não adianta colar, tentar enganar, buscar o caminho mais fácil. Aqui ele não existe.
Apenas quando tivermos aprendido e apreendido completamente a lição que a vida nos quer passar é que vamos minimizar nosso sofrimento.


Como foi dito, a dor pode ser emocional também e nesses casos, talvez a lição seja mais difícil de ser aprendida, ou assimilada. Não há muito o que fazer de concreto neste caso, pois não há remédios nem fisioterapia que dê um jeito na dor emocional. Os únicos aliados são o tempo e a reflexão interior, a meditação. A transformação, neste caso (segundo os maiores Sábios da Humanidade), passa por lições simples, básicas e difíceis: aceitação da dinâmica realidade, o desapego das coisas (físicas e abstratas) e pessoas e o reconhecimento de que tudo na vida, passa, gasta, quebra, envelhece e morre. 
Assim é provável que, na maioria das vezes, nossas maiores dores sejam mais emocionais do que físicas, o que talvez seja um alívio por um lado. Ou não!
Outra vez o trabalho é nosso, o de aprender, assimilar e se transformar. Novamente, para que isto ocorra, a reflexão interior com atenção, disciplina e persistência é o caminho mais valioso. De fato, não conheço outro. E daí, sou apenas eu! O que é que eu sei a respeito!?


Tenho passado por essa experiência há já alguns meses, por isso escrevo essas linhas. Não que a dor intensa ocorra sempre e há meses, mas em algumas ocasiões, quando sou pego de surpreza por algum evento fortuito, faço um movimento rápido com o ombro e aí, pimba, ela vem e tudo acontece conforme descrito acima. 
Sei que com o tempo e as medidas e orintações médicas, ela vai passar, mas sei que estou aprendendo uma lição, que tem muito a ver com a minha Arrogância e Prepotência de achar que já sei isso e mais aquilo e não procurar ajuda (inércia) na hora mais adequada.
Já refleti bastante a respeito e pretendo meditar ainda mais para assimilar bem a minha experiência. 
Por que preciso passar para uma outra lição rapidinho. Essa já deu!! Humildemente...!


Como diz o Poeta Nelson N., "....mas tudo passa, tudo passará!!..."


Amigos, a vida é bela, principalmente para quem já bateu com o nariz na porta, ou deu uma martelada no dedo!!


Abraços fraternos e mais os votos de paz profunda no coração de todos.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O que há por aí!!

Olá gente boa que me lê!
Boa noite!


Ao som de Mike Oldfield (Light&Shade), um dos melhores músicos não clássicos do século XX e XI, as harmonias e as melodias nos fazem viajar rumo a algum paraíso onde as coisas funcionam de acordo com a gentileza, a pureza e o amor.
A pergunta é: será que existem seres humanos lá!?


Mas não sejamos tão negativos! O que está do lado de fora, no exterior, no mundo em que vivemos, é o que temos por dentro, em nosso interior, nossa mente. Ou, pelo menos, é o que nós interpretamos do que sentimos por dentro, nossos impulsos básicos, nossos desejos, nossas aspirações, nossos sonhos mais belos e não tão belos.
Há outras coisas também que não sabemos rotular ao certo. E olha que rotular, classificar e julgar é conosco mesmo. Somos especialistas nessas tarefas que demandam muito da mente e pouco do espírito.


O fato é que dizem que vivemos adormecidos, à deriva, sem estar presente no momento, ou consciente ao significado do momento, ou ao que sentimos realmente naquele momento.
Porque, de fato, estamos aqui vivendo (e já faz um bom tempo) e não sabemos como, nem por que e nem durante quanto tempo ficaremos. Fora o fato de não sabermos o que aqui nos colocou, nem o que se pretende com isso, nem o que somos, nem o que se espera de nós.


Essas são as indagações importantes da vida e, no entanto, tem gente (muita) que não tem condições de conseguir viver com um mínimo de conforto, dignidade, segurança, saúde, etc, para sequer pensar nessas coisas. Sua luta é outra, se manter vivo. Continuar teimosamente a sobreviver à mingua.
O instinto de sobrevivência deve ser muito forte mesmo. Essas pessoas, portanto, passam suas vidas (curtas em geral) lutando muito para prosseguir por aqui, até que chega o dia delas.
Fim.


Por outro lado, existem as outras pessoas (nós), que têm o suficiente de saúde, conforto, educação, trabalho, segurança, etc, para viver bem.
E aí, aquelas indagações estão no ar, esperando uma reflexão periódica, uma busca por mais consciência nesta direção, um pouco mais de luz para que consigamos enxergar um pouco mais naquela direção.


No entanto, o que fazemos? Procuramos por distração, diversão, prazer, poder, coisas para passar o tempo e outras preocupações (legítimas ou não) que nos ocupam o dia todo, todos os dias.
Ah, mas as religiões tentam dar algumas respostas ou algumas pistas (ou regras). Elas são realmente o resultado do esforço de muitos que buscaram, em algum lugar no passado (filme), respostas para aquelas indagações.
Mas, infelizmente, tanto tempo se passou desde a época dos pioneiros, que hoje suas informações (em sua maioria) ou mensagens ou estão distorcidas (propositalmente ou não) ou parecem defasadas em relação à nossa cultura.


Para muitos não são confiáveis, para outros são a verdade ao pé da letra. Para outros ainda não são a verdade literal, mas precisam ser interpretadas. Mas interpretadas por quem!? Quem tem as chaves!?
Quais mensagens são literais e quais são simbólicas! No mínimo, há uma busca a ser feita. E ela parece ser individual ou, pelo menos, de um pequeno grupo. Quanto menos gente, menos distorção, no entanto há o perigo de não se ver a luz da verdade num grupo pequeno.


O fato importante é a reflexão sobre a busca do significado de viver, sobre os porques existenciais. É preciso faze-lo, é essencial faze-lo. É básico realizá-lo.
Na realidade, é esta a nossa principal tarefa. É uma tarefa do tipo expansão de consciência, de busca de nossa essencia, nossa semente. Cadê nossa semente, gente!?  É uma atividade de se voltar para nosso interior e buscar profunda e sinceramente por nossas verdades.
Assim, qualquer atividade de expansão de consciência, de interiorização, de parada interior, ou de auto-conhecimento (como se diz), é uma tarefa que nos ajuda a encontrar as nossas respostas.


O resto serve à nossa sobrevivência e às nossas condições de vida neste planeta. Estas questões práticas, de sobrevivência e construção e manutenção, mas também de busca de poder, de busca de conforto, de prazer, de ser reconhecido, de ser o primeiro, de ganhar na loteria, de ser bonito e sarado, de aparecer mais, de comprar mais, de saber mais, nos fazem ficar à deriva da busca essencial, longe de sua trilha.


Enquanto estivermos fora daquele caminho, estaremos como que adormecidos, sonolentos, como zumbis, sem saber da existência destas verdades interiores e sequer saber que existe o amor incondicional entre quaisquer seres viventes, a pureza das crianças, a beleza da natureza, a super energia da criação, a maravilha de se viver com um parceiro com respeito e carinho e ter construído uma família.


Há muito o que descobrir, há muito o que buscar, porém é necessário acordar.
Cada um tem um caminho. Busque-mo-lo.


abraços fraternos de amor e paz profunda, 



quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Um cachorro e sua família

Ao som de Pat Metheny (First Circle) e ao cair da tarde, num clima chuvoso, mas ainda com grande atividade dos pedreiros próximos e outros trabalhadores.
A música me anima. Certas músicas me animam muito e essa que ouço agora (Praise) é certamente uma delas.
Mas, nem tudo é animação. Hoje, quase agora, morreu uma de nossas cadelas, a Poddle, cujo nome era Tammy. Foram quase 14 anos, ou mais, de convívio.
Um convívio, na maioria das vezes, calmo, prazeiroso, amigo e leal, claro. Ela era uma cadela com inteligência acima da média dos cachorros que eu tive o prazer de conviver.
Aprendia as coisas com facilidade, era dócil e quase nem latia. 
Em compensação essa outra que aqui ficou, uma Dashhound ou Teckel (uma Cofap), late pelas duas ou mais. Mais essa é outra estória.
Hoje, a história é toda da Tammy, sua leveza e sua doçura. Todos gostavam dela aqui em casa. Bom, talvez a Teckel, nem tanto, apenas aceitava.


Mas a Tammy era a favorita da maioria da família. Minha propriamente não era, mas gostava dela, o que era muito fácil. Seu jeito dócil, talvez tenha sido estruturado e definido também pelo fato dela ter tido duas cadelas Teckel em seu convívio, o que a deixou como cachorro seguidor e não lider. 
As Teckel sempre assumiram o papel de cachorro Alfa e lá estava ela relegada ao segundo plano. Seus primeiros latidos eram sempre abafados logo em seguida, suas idas e vindas pela casa eram como que "vigiadas" e analisadas.
Mas ela sempre se adaptou com maestria a esse papel, o que mostra sua inteligência.


Acompanhou meus filhos da adolescência em diante, teve uma convivência bastante próxima e afetiva, principalmente com minha filha Maíra e minha companheira de vida Eneida. Elas devem sentir mais essa perda.
As perdas só existem porque nos acostumamos a achar que as coisas são nossas ou que devem durar para sempre, principalmente aquelas que nos dão prazer, carinho, nos fazem companhia, nos dão amor incondicional e não nos pedem nada em troca.
A perda é uma das lições mais duras dessa vida neste planeta onde reina a lei da Gravidade e a da Inércia.


Temos muita dificuldade em aceitar certas perdas e sofremos por quase todas. É normal, dizem. Mas a paz de espírito também é normal e poderíamos acessa-la quando quizéssemos.
De qualquer forma temos muito a aprender antes de chegarmos à maestria, à nossa divindade interior, à nossa Luz maior. Acredito numa vida de amor, de carinho, de diálogo, de amizade e de paz.
Acredito que tudo isso nos leva adiante, para cima e para dentro de nós mesmos. Acredito no relacionamento humano e no diálogo, no respeito, no amor, na tolerância e na aceitação para mante-lo e aprofunda-lo.


O cachorro nos dá tudo isso e mais, sem nada pedir em troca. A não ser talvez comida, nossa companhia (de vez em quando) e um teto.
A Tammy foi assim e assim se foi. Desta para a melhor. Hoje, quase agora, eu a enterrei no nosso quintal. Foi a terceira.
Voltou para a terra e para o universo. Na hora em que fechava a cova com as primeiras pás de terra, veio até mim um querido sentimento ao qual me agarrei e vivenciei. Um sentimento de despedida e de entrega.
De entrega ao Universo daquele pequeno ser que durante alguns poucos anos alegrou tanto os corações dessas pessoas.


Obrigado Deus por esse relacionamento e por pode-lo encerrar apropriadamente.


Ela se foi, mas o Pat Metheny e nossos corações continuam buscando alegrias, paz e amor.


Beijos e paz profunda a todos.