sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Viagem

Olá amigos do coração! Aqui mais uma vez com algumas palavras que talvez façam algum sentido em algumas cabeças.
Embalado pelo som ambiente de Jean Michel Jarré (Geometry of Love), este já sessentão músico especialista em música climática, escrevo este registro com algumas reflexões que, senão completamente verdadeiras, bem próximas de alguma verdade, com certeza, estão.
Como se diz em alguns textos, a ficção é uma invenção da falta de imaginação.
Assim sendo, ....


De repente ele acordou. Mais uma vez, como já acontecia há algum tempo, com aquela sensação esquisita de sonho e realidade. Estava desperto, tinha certeza, pois percebia todos os sentidos em alerta. Ainda sentia aquela sensação de que algo diferente do "normal" estava ocorrendo. 
Era uma noite escura, sem lua, mas aos poucos, se acostumando com a falta de luz, seus olhos começaram a enxergar melhor.


Curiosamente estava sentado em sua cama, com as pernas esticadas. Ficou surpreso, mas não muito, pois não era a primeira vez.
Começou a observar os detalhes de seu quarto aparecendo lentamente e cada vez com mais definição. Ali estavam o chão de madeira, seu computador de mesa, seu teclado e sua cadeira de trabalho, próxima à sua escrivaninha.
Sua mente então, começou a lhe jogar alguns pensamentos esporádicos e erráticos, mas ele não queria focar neles, apenas curtir o momento. Senti-lo. 
Já havia passado por aquilo e não queria estraga-lo deixando o medo ou a ansiedade se apossarem dele. Ele já conseguia controlá-los um pouco.


Então, com um pouco de receio, lentamente começou a se virar para trás com as mãos apoiadas e as pernas esticadas em seu colchão. Foi identificando as coisas que sabia que iria ver, seu teclado, a luminária no criado-mudo, o rádio-relógio e seus números piscando em verde, seu armário de livros e, finalmente, seu travesseiro.
Então, sentindo um frio característico na barriga, percebeu (novamente) que seu travesseiro não estava sozinho, havia algo mais lá. Algo que não conseguiu identificar de imediato.


Após o choque inicial, foi identificando cada vez mais que apoiado sobre seu travesseiro repousava suave e tranquilamente, nada menos do que sua cabeça com seus olhos fechados, seu semblante tranquilo e sua boca semi-aberta respirando tranquilamente.
Sua cabeça e seu tronco, apareciam deitados atrás de si mesmo no colchão. 
Mas como!!?? Era sempre a questão que explodia em sua mente. Não deu bola para ela. Deixou que as coisas fluíssem naturalmente. Seu coração começou a diminuir seu ritmo e a tensão em seus músculos do pescoço começou a suavizar.
Como já havia passado por aquilo antes, conseguiu se manter equilibrado, mais ou menos tranquilo, evitando a saída brusca daquele "estado".


Vibrou internamente um pouco, com sua vitória. Tinha "saído" mais uma vez e agora se preparava mentalmente para dar os próximos passos.
Não sabia o que podia fazer ou o que iria acontecer. Tentou fazer o mais simples, sair da cama, dar alguns passos.
Ao pressionar as mãos no colchão para tentar se mexer e girar as pernas, sentiu uma coisa estranha. A força que fez para sair dali foi desproporcional e suas mãos "afundaram" um pouco no colchão, fazendo com que perdesse o equilíbrio momentaneamente.
Levou um pequeno susto, mas suficiente para seu coração disparar e sua barriga sentir. Esperou um pouco e respirou fundo lentamente algumas vezes. Se recuperou e pensou que tinha que estar atento àquele tipo de coisa, pois era provável que acontecesse novamente e ele não queria se perder novamente.


Conseguiu finalmente se girar com as pernas e colocar os pés no chão. Ao faze-lo, sentiu-se como que se "descolando" de suas pernas. A sensação de "descolamento" foi como uma mistura de formigamento com uma variação térmica, de quente para frio. Tremeu um pouco, mas conseguiu sair. Era algo novo e muito estranho, como todo o resto. 
O chão estava frio, portanto sentia mais ou menos as mesmas sensações, concluiu apressadamente. Ficou ali sentado um pouco olhando tudo à sua volta para ver se era mesmo o seu quarto. O que viu lhe deu a impressão exata de que sim, aquele era seu quarto.
Tentou se levantar vagarosamente, sem muita força. Ergueu-se um pouco desequilibrado, mas conseguiu ficar ereto. Ao observar ao seu redor, olhou para sua cama e viu claramente que sim, "aquele" na sua cama deitado era ele mesmo. Ele agora era composto de dois "corpos". Ocorreu-lhe, então, uma questão estranha, como e onde estava sua consciência??! Aqui, ali, acordada, desperta ou adormecida!!
Muito estranho, completamente irreal. No entanto, tinha certeza de que estava acordado, consciente. Essa sensação era forte, clara e bastante intensa. Agora que tinha pensado nisso, percebeu que sua mente estava de um jeito um pouco diferente do que sempre. Mais atenta, mais focada e mais clara. Talvez fosse a "adrenalina" do momento.


Decidiu se movimentar um pouco. Começou a girar seus braços em torno de si mesmo de um lado para o outro, com as pernas fixas no chão. Era como um exercício de criança. Sentiu mais uma vez sua leveza, a frescura do ar e começou a adquirir o controle sobre a força devida para realizar esta tarefa. Ficou feliz por sua pequena vitória.
Começou então a caminhar pelo quarto, sempre lentamente, como que reaprendendo. 
Estava ficando mais entusiasmado e tranquilo e queria explorar mais. Pensou que podia andar pela casa ou até sair dela. Essa foi uma ideia muito empolgante e, ao mesmo tempo, amedrontadora para ele. 
O que iria encontrar lá fora? Pessoas como ele, fazendo o mesmo!? E os que estavam apenas dormindo, como se mostrariam!? Tinha muitas perguntas em sua mente.
Decidiu sair do quarto, dar uma volta interna, ver sua família.
Andou resolutamente até a porta, talvez com muita força para as novas condições. Quando foi pegar na maçaneta, seu impulso foi muito intenso e o movimento de sua mão fez com que ela passasse pela maçaneta e pela porta.
Na verdade, sua desapareceu por completo, pois tinha atravessado a porta. Ao se ver com uma parte do braço visível e a outra (sua mão) invisível levou um susto muito grande. Seu coração disparou, sua nuca arrepiou, sua respiração travou e....ele voltou.


Despertou em sua cama novamente, como de um sobressalto, uma queda livre, um pouco tremulo. Tentou se acalmar e começou a entender o que tinha acontecido.
Ele tinha voltado antes do momento que queria, pois tinha levado um susto grande.
Mas ele tinha saído, tinha conseguido. Aquela era uma nova realidade. E ele iria explorá-la novamente com certeza.


Agradeceu mais uma vez esta oportunidade de tirar um pouco o Véu de seus olhos. Relaxou um pouco e tentou dormir novamente.
Não sabia se ainda iria voltar hoje ou não, mas não importava mais. Já sabia que conseguiria novamente.


Bom, bom, bom amigos esta foi uma história do Sr.V. E ele vai voltar, porque tudo volta e porque eu quero.
A realidade é uma coisa muito estranha. Muitas vezes temos certeza de algo, enquanto que em outras situações aquela certeza se desvanece completamente. De certo só existe o momento, o resto é o imponderável.


Paz, amor e Luz a todos nós neste novo ano.