terça-feira, 26 de julho de 2016

Situações extremas



Em situações extremas, medidas extremas, diz a citação popular. 

Sim, mas como saber quais são as situações e as medidas extremas é uma coisa a ser refletida com cuidado.
Ou seja, quando nada mais há que ser feito, quando já não há mais esperanças, quando o padre ou o médico mandam de volta para casa, se desresponsabilizando, enfim situações finais e desesperadas, quando a perda ou a morte é iminente, só nos resta o convívio com os amigos ou a família.

E o que pode ser feito nessas horas limites!?
Não há mais lugar para palavras sábias, nem para ervas milagrosas, ou rezas poderosas. 
Não há mais caminhos alternativos, nem medicinas ancestrais. Nesses momentos, onde a dor, o sofrimento e a finitude da vida convivem conosco no nosso mais íntimo, nada mais resolve além do consolo carinhoso, do ombro amigo, do ouvido aberto e do amor incondicional!
Não há mais necessidade de dizer a frase final de auto ajuda ou, muito menos buscar algo para se auto-promover ou se auto-satisfazer.

Agora a hora é totalmente do outro, aquele que se despede da vida e ele não quer mais escutar coisinhas mirabolantes ou exercícios de uma fé desgarrada de sua realidade. Tudo já foi feito e já passou, a esperança, que é a última que morre, já morreu. 
Somente a pessoa que está com a dor é capaz de dizer o que está sentindo.
Agora é o momento de escutar e procurar a paz interior entre o que restou de fundamental.

Nessas situações, o ser humano se aproxima bastante da sua essência fundamental mundana, seja ela mais ou menos bem resolvida. 
Percorre sua jarda final com negação, medo, desespero, ou raiva e desdem. 
Ou pode seguir sua trilha final com coragem, consciência, amor no coração e aceitação. É possível imaginar que este cruzará o túnel com mais equilíbrio e paz interior.

Sim, mas é possível isso nestas situações!? Quem vai saber como vai reagir numa situação extrema!? Isso pode ser treinado ou aprendido!?

De alguma forma, pode-se dizer que o que a pessoa está enfrentando agora é o que ela sempre esteve, ou seja sua realidade, o seu trabalho, o seu processo e a noção clara da finitude de todas as coisas, das alegrias e das tristezas.
Assim, parece que se uma pessoa está acostumada a encarar a sua realidade sempre pela frente, com coragem e consciência sem se deixar envolver por descaminhos imaginosos ou subterfúgios que buscam algo inefável ou esperançoso, esta enfim pode estar mais bem "preparada" para o que vier a acontecer em seu caminho, pois vai fazer o que sempre fez. 
O que tem que ser feito para manter a dignidade, o amor e o respeito na vida.

Por outro lado, se a pessoa se acostumou a levar sua vida na base do "alguém que cuida de mim", colocando seu destino nas mãos do imaginado, na adoração do ídolo ou das rezas e dos pedidos ao invisível, das ervas ou dos mantras milagrosos, esta tenderá sempre a pedir ajuda a algo ou alguém para que a tire daquele sofrimento ou daquela situação, porque ela própria não sabe mais como fazer sozinha.

E é claro que a comida não vai dar para todos, que nada é 100% garantido, que na hora do pênalti, ou o goleiro ou aquele que chuta vai ficar feliz, nunca ambos. Não há milagres apenas para alguns, senão seria como roubar no jogo.
Então há apenas a realidade e o fluxo natural das coisas.

Assim, podemos agir do jeito que quisermos, colocar nossa fé ou orarmos para o ídolo que desejarmos, realizar aquele ritual ancestral milhares de vezes, da maneira como nos ensinaram, mas não podemos jamais perder a força da nossa individualidade, nossa consciência da realidade, nem a coragem amorosa de a enfrentar. 
Porque na hora de dar aquele salto perigoso, aquele que nos leva de um nível a outro desconhecido, aquele necessário para a transformação ou aprendizado, quem vai correr de olhos vendados para o abismo, será sempre apenas nós mesmos.

E quais são as situações extremas, senão qualquer momento na vida, em que tudo pode acontecer, tudo está aberto à ação e nada é previsível em termos de continuidade!!?



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