terça-feira, 19 de março de 2013

Um certo ser humano!

Olá amigos humanos!

Ao som dos pingos da chuva e das teclas mágicas e sonhadoras de Harold Budd, inicio mais uma postagem. Noturna, quando os gatos são pardos, quando as certas aves vivem e lançam seus piados ora tristes, ora soturnos e quando nossos pensamentos e imagens mentais são mais palpáveis e, talvez, profundos e pessoais.

Em todo caso, era uma vez um certo ser humano. Apenas um ser humano. Será!!?
Segundo a tradição, não a História, ele nasceu na Índia, numa família nobre, poderosa e rica, há talvez 2500 anos atrás.
Seu nome era Siddhartha Gautama e sua família pertencia ao clã Sakya.
A tradição diz (mas não prova) ainda que ele teve uma vida muito boa e "feliz" dentro das propriedades de sua família. Ele teve de tudo: carinho, afeto, desejos satisfeitos, diversão, educação privilegiada e a possibilidade de uma esposa e um filho.
Seu pai, um rei, queria naturalmente que seguisse seus passos e governasse também aquela região da Índia. Assim, sua educação foi a de um príncipe e guerreiro, além de ser super protegido das "feiuras e negatividades do mundo real", sendo impedido de sair da propriedade familiar.
Mas ele, insatisfeito com sua situação de recluso e ignorante (das coisas do mundo), acabou conseguindo escapar algumas vezes (com um acompanhante) e ir cavalgar pelas cercanias da propriedade de sua família.
Ao faze-lo, notou quatro coisas que o chocaram muito: um homem velho, um homem doente, um homem morto e um homem pobre.
Esses encontros lhe deram muito o que refletir, já que nunca tinha visto nenhum tipo de sofrimento.
O fato é que, ainda segundo a tradição, algum tempo depois, aos 29 anos, ele decidiu sair para o mundo em busca de uma solução para o sofrimento humano. 
Ao fazer isso, ele abandona seu pai, sua esposa, seu filho, seu título, sua religião, sua riqueza, seu lar, sua segurança, seu conforto, enfim tudo.
Tudo foi deixado para trás. Sua vida mudou completamente e sem exageros.
A tradição diz que ele tentou durante seis anos os mais variados métodos e gurus existentes na região para conseguir seu objetivo, ou seja acabar com o seu sofrimento, com sua ignorância.
Aos trinta e cinco anos, após abandonar a tudo e a todos, sentou-se aos pés de uma figueira e lá ficou meditando. Disse a si mesmo que só iria se levantar após ter se iluminado.
E lá ficou por algum tempo (um dia, sete dias, sete semanas, !!??). Ao desabrochar do último dia, ocorreu o que ele tanto esperava, sua iluminação.

A tradição diz que ao longo de mais 45 anos Siddharta Gautama, agora o Buddha Sakyamuni (o sábio dos Sakya), viveu propagando o que aprendeu através de discursos em várias partes da região norte-nordeste da Índia.
Com o tempo arrebanhou muitos discípulos inclusive seu pai, sua esposa, seu filho e seu primo, nos vários lugares em que esteve.

Aos 80 anos aproximadamente, falece de causas naturais e deixa mais de 500 discípulos órfãos e desamparados. A partir daí, tudo está em suas mãos, ou talvez mente, memória.
Sim, por que ninguém escreveu ou registrou nada do que foi dito em seus milhares de discursos. 
O que foi feito então!??
Segundo a tradição, logo após sua morte, foi feito um primeiro concílio onde os discípulos mais avançados discutiram como fariam para preservar os conhecimentos propagados pelo Buddha.
Concluíram que a única possibilidade era a transmissão oral de tudo o que tinha sido escutado e aprendido. 
Assim, foram eleitos três dentre eles (500) que por sua memória prodigiosa, guardaram tudo (!!??) o que escutaram em seus discursos. Suas memórias foram sendo então comprovadas por outros, conforme iam sendo ditas para todos.
Com isso, chegou-se a um consenso de três grupos de conhecimentos, cada um com informações equivalentes a 45 anos de discursos. Estes foram sendo transmitidos oralmente ao longo dos anos e dos séculos por gerações de monges.
Mas isso é praticamente um absurdo total. Alguém imaginar que se pode guardar na memória o equivalente a vários volumes enciclopédicos ou que esse conteúdo não vai se adulterar com o tempo.
Como isso pode ter sido possível!? Será que foi mesmo!?

O fato é que, a História (não a tradição) diz que após 500 a 600 anos mais ou menos, surgiram as primeiras "escrituras", os primeiros cânones budistas, o primeiro conjunto total dos ensinamentos registrados. 
Surgem também as primeiras biografias do Buddha e do Budismo. Ou seja, eles aparecem mais ou menos na época de Jesus. A partir dessa época eles vão sendo comentados, refletidos e re-escritos em vários idiomas.

Mas a questão é: seriam esses ensinamentos algo sério, com conteúdo e consistência filosóficos, à prova do tempo, das culturas, das guerras, dos reis, dos bárbaros, dos acadêmicos, dos intelectuais, dos eruditos ou seriam algo confuso, distorcido, e com sentido perdido ao longo dos mais de 500 anos de transmissão oral!!? 

A resposta, pasmem senhoras e senhores, é sim, há uma consistência, uma coerência e uma lógica que não podem ser refutados. Mesmo em nossa sociedade super materialista, hedonista, irônica e cética.
Apesar disso tudo e do meu próprio ceticismo (inicial), os ensinamentos do Buddha estão aí sendo admirados e estudados por filósofos, psicólogos, psicanalistas, psiquiatras, historiadores, acadêmicos em geral e pelo povo comum.
Por muitos que buscam (em comum) um caminho, uma solução para suas agonias interiores, suas vidas ignorantes de sofrimento, de excessos, de distrações, de apegos, de medos, de raivas, de ódios, de preconceitos, de falta de amor para dar, de falta de amor recebido, enfim de falta ou de excesso.

Para quem se interessar, lá estão eles, seus ensinamentos, sobreviventes por tantos séculos, através de tantos acontecimentos nefastos e problemas que ocorreram em vários dos países em que ele (o budismo) se encontra enraizado.
Esse é um fato. Um fato histórico, não se pode negar. Como pode acontecer, não sei. Só posso conjecturar que precisou da ajuda e do trabalho de muitas (milhares) de pessoas que, com amor, esforço, disciplina, fé, foco, sabedoria e persistência, venceram o impossível.

É por aqui que eu fico, que eu paro.
Espero um dia poder compreender!!

Beijos, paz e amor a todos.