quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Sr.V

Boa tarde amigos deste universo, que agora, segundo alguns físicos, pode ser rebaixado a um mero participante de um conjunto maior denominado Multiverso. É mais um duro golpe para o nosso querido Ego. Um dia ele descansará em paz.
Ao som do inesquecível Rei Escarlate (KIng Crimson), nos seus álbuns Island e Red, escrevo algumas passagens da vida atribulada e interessante de um certo Sr. V.
Faz-se notar que os acontecimentos desta narrativa são subsequentes aos daquela intitulada "Viagem".
Façamos então da sua, a nossa viagem.



Ele sempre achou que tinha o controle de sua vida. Na verdade, sabia que isso era impossível, que estava fora do alcance dos seres humanos.
Mas, de alguma forma, o Sr.V. achava que controlava algumas coisas num certo nível, o que já lhe dava uma sensação boa. Uma sensação de certa superioridade (mas não dizia para ninguém), uma certo orgulho de que estava vivendo do jeito correto.
Enfim, ele se achava um pouco superior aos outros. Achava que já conhecia e compreendia as coisas que eram necessárias para o bem viver e o bem conviver.

No entanto, de fato já tinha vivido um bom tanto de sua vida, tinha passado por várias experiências de relacionamento e de aprendizado. Já estava entrando numa fase em que se começa a prestar mais atenção às coisas que vem de dentro, coisas que, de repente parecem assumir uma importância bem maior do que no passado.
Prestava mais atenção aos seus sentimentos, às sensações mais interiores, a alguns de seus pensamentos mais estranhos. Procurava compreende-los, descobrir algo a mais sobre o seu significado.

Era isso afinal, o significado das coisas, de tudo que lhe acontecia na vida, passou lentamente a ter mais importância,  a lhe despertar um interesse cada vez maior.
A rapidez com que a vida passava, o real sentido da vida e de sua existência passou a lhe interessar cada vez mais.
Seu modo mais natural de buscar a compreensão das coisas novas era através da profunda reflexão racional, da comparação de seus resultados com referências já existentes e da busca de informações vindas da experiência e da sabedoria de certos seres humanos que tinham alcançado reconhecida maestria.
Assim, era uma pessoa com a mente treinada para buscar suas respostas no mundo racional, filosófico e científico. 
Mas, além disso, sempre teve uma parte de si (não desenvolvida, mas forte) que lhe dizia que nem tudo era visível ou passível de compreensão com os instrumentos e estratégias racionais. Que havia algo mais além do poder do microscópio ou do telescópio.

Mas nada disso o havia preparado para as experiências que estava tendo há já algum tempo.
Já fazia algumas semanas que, querendo ou não, após adormecer, se via saindo do seu corpo físico (deixado na cama) e flutuando ou caminhando suavemente, percorria sua casa através das paredes ou das portas. Às vezes saia para fora só para ver como as coisas estavam e percebia que elas estavam do jeito que sempre estiveram, todas no mesmo lugar deixado antes.
No entanto, havia uma diferença sutil no modo como as via, ou seja, na visão que tinha das coisas físicas. Estas pareciam como normalmente aparecem em sonhos muito reais, muito vívidos. Mais vivas, coloridas ou realçadas, se é que as palavras podem descrever a realidade percebida.

Outra percepção clara era que se sentia como que mais leve ou menos denso, se é que poderia falar dessa forma. De fato, acontecia que ao dar um "pulinho", saia flutuando, podendo inclusive voar por uma certa distância.
Isso era muito desconcertante, embora maravilhoso em termos de sensação. Sua mente treinada, sua razão não conseguiam "dizer" nada, concluir nada, pois não tinham referências, não tinham como "tranquilizá-lo" à moda do "ah, isso aqui é assim por isto e por aquilo". Parecia não haver causa material ou real para aquele efeito. Podia-se apenas perceber e vivenciar os eventos, sem classificá-los ou criticá-los.
Entretanto, sabia que sua consciência estava ali presente, que sua mente era sua mente, a mesma de sempre. No entanto sua compreensão, sua atenção e seu poder de observação pareciam estar maximizados, como em estado de alerta. E não era para menos.

Até hoje ainda não tinha ido muito longe de sua casa. Ficava nas proximidades tentando explorar "o já conhecido", "o já visto", mas agora de um outro ângulo. As coisas eram as mesmas, porém as via de um modo um pouco diferente. 
E as pessoas!? Tinha tido "contatos"com as pessoas de sua casa e percebera que seus "outros corpos" (não sabia como chamá-los) também vagavam pela casa, fazendo coisas costumeiras do dia-a-dia, mas estavam como que adormecidas ou inconscientes.
Ele conversara com elas, disse-lhes para acordar e vir com ele passear lá fora, flutuar e voar até outros lugares. Mas elas ficavam como que incrédulas, indiferentes e até ranzinzas, como que amortecidas e condicionadas a fazer as coisas que sempre faziam.

Assim, percebeu que a maioria das pessoas parecia não estar experienciando esta "viagem" como ele. Será que haveria alguém mais capaz de realizar essa "viagem". Ainda não havia visto ninguém "flutuando" como ele era capaz. Mas sabia intuitivamente que deveria haver outros com a mesma "capacidade". Não sabia ainda se queria encontra-los ou não. Conversar com eles, trocar experiências parecia ser uma coisa interessante e atrativa. 
Era quase com uma outra vida, num outro papel, outro personagem. Não muito diferente, mas podendo ser diferente, apreender novos conhecimentos, ter outros relacionamentos, enfim viver uma outra realidade.
Mas esta nova realidade podia ter outras regras, outros modos de se relacionar com as coisas e com os outros seres. Teria que aprender a reconhece-los e usá-los. Poderia haver alguns limites e alguns "perigos" novos também.

Será que estava no chamado "mundo espiritual"!? Mas se estivesse, o que seria ele!? Um espírito!!? Será que veria outros espíritos!? O que o levara a aquela condição!? O que se esperava que ele fizesse!? Qual era o significado de tudo aquilo!!?
Muitas perguntas, nenhuma resposta.
Foi então que sentiu, mas do que viu, uma sombra, uma presença, uma outra consciência desperta. Sentiu um grande calafrio, mas conseguiu respirar fundo e permaneceu ali.

Aos poucos, aquela presença foi-se fazendo notar e ele foi podendo observa-la gradativamente. Com uma sombra que vai se revelando nos seus tons cinzentos, ela foi adquirindo volume e densidade, até que, por fim, estava à sua frente por inteiro.
Quando percebeu o que viu, espantou-se, mesmo tendo sido preparado. Não era para menos, pois de fato, estava diante de Si Mesmo!!

Bem, bem amigos nada permanece, tudo se transforma e nesse nosso caso, o que parece ser pode Não Ser.
Senão, vejamos...em algum momento quando a Luz incidir no ângulo correto e o pio da Coruja estiver no tom adequado, a Inspiração voltará.

Abraços de Luz e Harmonia a todos.
Que a Paz e o Amor sempre venham a seguir.

Foi-se...