sábado, 10 de agosto de 2013

Ela existia!

14:23hs



Som: Música eletrônica de Steve Moore (Light Echoes). Na prática é como se fosse o Tangerine Dream. Eu gosto. 
Já estamos em agosto. O sol começa a nascer ligeiramente mais cedo e as temperaturas já sobem um pouco. As noites se encurtam e a vida consciente acorda mais cedo.
Os seres viventes deste mundo ao despertarem, começam a perceber novos pensamentos, sentimentos, urgências, esperanças e toda a sorte de imagens e fantasias em suas mentes. Basta existir conscientemente neste mundo para sofrer a influência desses eventos nem tão compreendidos assim.

É minha gente, mas não para Verônica. Para ela não acontecia desse modo. Por quê!? Porque ela ainda não existia nesse mundo. Não tinha este corpo, este cérebro ou esta mente com tudo o que a acompanha. Não ocupava uma parte desse espaço, não respirava nosso ar, não comia nossa comida e não tinha nossas preocupações.
Mas ela existia. Ela tinha certeza disso. Mas, onde ela estava!? Ela estava no nosso antes e no Agora dela.
De fato, ainda nem sabia que era a "possível" Verônica e que teria um pai e uma mãe. Que teria uma vida consciente com amigos, escola, trabalho, esperanças, projetos, realizações, raiva, dores, doença, sofrimento, amores, alegrias, ressentimentos, inveja, medos, certezas, orgulho, dúvidas, entusiasmo, auto-estima, Ego, paciência, confiança, fé e Paz.
Não sabia que poderia ir da miséria à riqueza, da alegria à tristeza, da expectativa à decepção, da desesperança ao amor em questão de minutos ou até mesmo segundos. Não sabia que poderia ter uma experiência espiritual tão transformadora que poderia lhe trazer a Paz e a Sabedoria totais. Não sabia que poderia sentir tanto medo que poderia até se matar.
Enfim, não sabia ainda que seu potencial mental de vida e de morte poderia ser inimaginavelmente grande, que de tão imenso era como se infinito fosse.
Não, ela ainda não sabia. Porque aqui ainda não estava.

Mas, se não estava aqui, onde estaria!? Uma pergunta válida, não é mesmo! Uma dúvida razoável. Onde ela estava, onde nós estamos, e o que ela lá fazia!? E nós!?
Essas perguntam demandam uma explicação, ou pelo menos uma profunda e perene reflexão. Nem que seja para aplacar os ânimos. Ou talvez até para realizar uma (parte) verdade. Ou a Própria, em carne e espírito.

De qualquer forma, lá estava Verônica existindo em algum lugar diferente desse e sendo algo diferente de nós. Sim e de fato, isso é verdade e verdadeiro porque nada existe em um lugar sem ter estado antes em outro (esperando). Pois nada surge do nada. Algo sempre surge (vem) de algum lugar. Ou de algum formato anterior, menos amadurecido.  Nada se perde, tudo se transforma. A quantidade de energia do universo se conserva. É uma lei natural da evolução.

Assim devem funcionar as coisas do Universo, através da evolução, da tentativa e erro, da causa e do efeito, com origem, vida, crescimento, autoajustes, amadurecimento, envelhecimento, decadência e morte neste mundo. E, portanto renascimento no outro.
Estamos então aqui, neste mundo, em nossas vidas buscando evoluir, através das experiências com os outros e conosco mesmos, tentando, errando, se ajustando, amadurecendo, em direção ao outro mundo, para então, conhecer Verônica.

Beijos a todos, paz profunda e atenção plena.




quinta-feira, 9 de maio de 2013

Um livro...

Olá queridos amigos e colegas desta vida!

Começo esta nova postagem ao som de Bruno Sanfilippo, argentino e brilhante pianista clássico, tecladista e compositor de música Ambient. Ouço o album Subliminal de 2011.
O som, especialmente este estilo, sempre me motiva, me embala e me coloca no clima adequado para a Reflexão.

De qualquer forma, eu digo que...
Há um livro muito antigo. De fato, é um fato histórico que há um livro escrito no século V da era Cristã, mais ou menos por volta do ano 430 na região do que é hoje o Sri Lanka.
Escrito em Pali (língua indiana da época) pelo eminente erudito e monge budista indiano Buddhaghosa, o livro chama-se Visuddhimagga, o Caminho da Purificação.
Buddhaghosa foi um prolífico erudito budista, tendo escrito vários outros trabalhos na área, sendo este em especial considerado hoje como o mais importante.

Seu trabalho foi feito dentro da Doutrina Budista Theravada e é considerado o mais importante texto desta linhagem exceptuando-se as próprias escrituras do Canon Pali, o Tipitaka (que significa três cestos).
O Visuddhimagga é um compêndio ou um manual que resume e sistematiza o conhecimento da filosofia do Buddha sobre a meditação e o Caminho para o Nirvana conforme entendido e difundido entre os Antigos monges do Monastério Mahavihara no Sri Lanka. Está baseado principalmente no Sutta Rathavinita,  que é parte do Sutta Pitaka, um dos três cestos do Canon.

O trabalho do autor ao realizar o Visuddhimagga foi de análise e comentários do texto do Sutta, além de estruturação num formato mais didático composto de sete partes que definem o Caminho da Purificação. 
Ele foi comentado posteriormente por outros escolares budistas e veio sendo utilizado para estudo e prática pela comunidade budista (Sangha) Theravada durante os séculos até a nossa época.
Milhares de iniciantes ou avançados o leram e o estudaram até hoje, obtendo-o através de sua iniciação na tradição budista ou de um mestre individual. O livro era de difícil acesso e difícil leitura e estudo. Não é para leigos.

Mas, agora, em 2010, saiu a quarta edição revisada deste livro em inglês pela BPS (Buddhist Publication Society). E mais, ela está disponível (pdf) de graça no site (www.accesstoinsight.org).
Isto só foi possível pela dedicação de um outro monge budista, também do Sri Lanka, que em 1955 decidiu estudar mais a fundo o compêndio realizando sua tradução para o inglês. Durante seu trabalho e após comentá-lo com outros de sua Sangha, decidiu-se que seria importante sua publicação para o Ocidente.
Assim, após esmerar-se um pouco mais, em 1958 saiu a primeira edição do Visuddhimagga em inglês. A sua tradução contém várias notas de roda-pé contendo outros comentários de outros escolares budistas posteriores a Buddhaghosa.

Assim, um dos livros mais importantes da filosofia Budista e, principalmente, dos ensinamentos do Buddha, está agora em inglês e na internet, para quem quiser baixar, ler, estudar, praticar ou deletar.
A internet viabiliza, disponibiliza muita coisa, podemos dizer tudo sem perda de generalidade. Mas também, ao faze-lo, corre o risco de banalizar e de minimizar sua importância ou seu valor.
Em todo caso, é melhor ter do que não ter, é melhor ver do que não ver, é melhor conhecer do que ignorar.
É melhor aumentar nossa consciência, para melhor formarmos nossos princípios, nossos valores, nossa Ética.
Para melhor vivermos entre nós e conosco mesmos.

Viva a internet! Viva a informação!!! Aumentemos a Luz da Conscientização!!! Viva!!!!

End of storie!

Paz e amor a todos!

terça-feira, 30 de abril de 2013

Os cães latem ....

E eu noto!
À noite os sons parecem ser mais altos, intensos, perceptíveis e até preocupantes e irritantes. Só mudou o horário e os sons, na realidade, são menos intensos do que durante o dia. Há muito o que aprender ainda.
Somos seres sensíveis, às vezes demais. Nossa sensibilidade é dependente do ambiente, do horário, da temperatura, da idade e etc à parte.
Alguns fatores parecem influenciar bem mais do que outros. 
Imagino que o medo seja o maior deles. Mas a raiva e seus derivados estão bem próximos, logo atrás. Não podemos nos esquecer da inveja, do ciúme, do orgulho, da luxúria e da avareza.
A seguir, mas não menos importante vem a vontade de satisfazer nossos desejos, de todos de preferência. Por último temos a busca por segurança e por conforto (físico ou emocional), bem como a preocupação com o amanhã e o ontem. Estes 3 últimos podem ser vistos como derivados dos primeiros.

O fato é que somos muito pouco estáveis emocionalmente. Estas, resultado dos estímulos externos ou internos e de nossa sensibilidade parecem estar sempre querendo se fazer aparecer. Nos jogando ora num lado ora no outro. Às vezes parecemos um frágil barquinho num oceano tempestuoso, sendo jogados à merce da sorte.
Na dependência da próxima onda e do destino (!?).

Não é uma situação muito agradável e disso eu tenho certeza por experiência própria. Mas, o que se pode fazer a respeito? Existe algo que possa ser feito? 
Primeiro precisamos responder a uma pergunta internamente: eu quero que esse comportamento se modifique!?
Se houver o desejo, há a motivação, o estímulo interno em busca de uma resposta. Com humildade, disciplina e perseverança pode-se encontrar possibilidades de respostas.

Uma das possíveis respostas passa pelo "controle" da mente. Mas, afinal, é possível controlá-la, treiná-la!?
Dizem que sim. Duas fontes distintas e bem diferentes: a Ciência e a Sabedoria Antiga. Tanto a Neurociência e os outros cientistas da Mente, quanto algumas escolas de sabedoria antiga como o Budismo dizem ser possível e mais, dizem ser este um caminho para uma vida mais ....feliz, plena, florescente, etc.
O problema é que este aprendizado exige muito esforço, disciplina, repetição, atenção e perseverança. É um longo trabalho, de toda uma vida. Talvez mais.

Mas esta é sempre a trajetória para o aprendizado de uma nova habilidade mais complexa. Sabemos disso de várias maneiras. Portanto parece lógico e faz sentido.

Tudo começa com o treinamento e aperfeiçoamento da concentração e da atenção plena ao momento presente, ao que estamos sentindo e pensando em cada momento, mas sem julgar e sem se recriminar. Ao fazermos isso, nossa Consciência se expande, abrindo espaço para nossa maior compreensão e para nossa maior realização das coisas como elas são.

Quem acha que precisa de ajuda, que a busque humildemente. Quem acha que não precisa, espere chegar o seu momento.

Eu acredito muito nesse caminho e, embora ainda um ser humano quase-neandertal, busco humildemente trilhá-lo. Apenas como um ser infinitesimalmente pequeno dando seus primeiros passos para fora da lama.

Ao som do fabuloso Tetsu Inoue (Ambiant Otaku), mestre do Ambient Music, encerro por hoje desejando a todos muito amor, muita paz e Luz na Consciência.



terça-feira, 19 de março de 2013

Um certo ser humano!

Olá amigos humanos!

Ao som dos pingos da chuva e das teclas mágicas e sonhadoras de Harold Budd, inicio mais uma postagem. Noturna, quando os gatos são pardos, quando as certas aves vivem e lançam seus piados ora tristes, ora soturnos e quando nossos pensamentos e imagens mentais são mais palpáveis e, talvez, profundos e pessoais.

Em todo caso, era uma vez um certo ser humano. Apenas um ser humano. Será!!?
Segundo a tradição, não a História, ele nasceu na Índia, numa família nobre, poderosa e rica, há talvez 2500 anos atrás.
Seu nome era Siddhartha Gautama e sua família pertencia ao clã Sakya.
A tradição diz (mas não prova) ainda que ele teve uma vida muito boa e "feliz" dentro das propriedades de sua família. Ele teve de tudo: carinho, afeto, desejos satisfeitos, diversão, educação privilegiada e a possibilidade de uma esposa e um filho.
Seu pai, um rei, queria naturalmente que seguisse seus passos e governasse também aquela região da Índia. Assim, sua educação foi a de um príncipe e guerreiro, além de ser super protegido das "feiuras e negatividades do mundo real", sendo impedido de sair da propriedade familiar.
Mas ele, insatisfeito com sua situação de recluso e ignorante (das coisas do mundo), acabou conseguindo escapar algumas vezes (com um acompanhante) e ir cavalgar pelas cercanias da propriedade de sua família.
Ao faze-lo, notou quatro coisas que o chocaram muito: um homem velho, um homem doente, um homem morto e um homem pobre.
Esses encontros lhe deram muito o que refletir, já que nunca tinha visto nenhum tipo de sofrimento.
O fato é que, ainda segundo a tradição, algum tempo depois, aos 29 anos, ele decidiu sair para o mundo em busca de uma solução para o sofrimento humano. 
Ao fazer isso, ele abandona seu pai, sua esposa, seu filho, seu título, sua religião, sua riqueza, seu lar, sua segurança, seu conforto, enfim tudo.
Tudo foi deixado para trás. Sua vida mudou completamente e sem exageros.
A tradição diz que ele tentou durante seis anos os mais variados métodos e gurus existentes na região para conseguir seu objetivo, ou seja acabar com o seu sofrimento, com sua ignorância.
Aos trinta e cinco anos, após abandonar a tudo e a todos, sentou-se aos pés de uma figueira e lá ficou meditando. Disse a si mesmo que só iria se levantar após ter se iluminado.
E lá ficou por algum tempo (um dia, sete dias, sete semanas, !!??). Ao desabrochar do último dia, ocorreu o que ele tanto esperava, sua iluminação.

A tradição diz que ao longo de mais 45 anos Siddharta Gautama, agora o Buddha Sakyamuni (o sábio dos Sakya), viveu propagando o que aprendeu através de discursos em várias partes da região norte-nordeste da Índia.
Com o tempo arrebanhou muitos discípulos inclusive seu pai, sua esposa, seu filho e seu primo, nos vários lugares em que esteve.

Aos 80 anos aproximadamente, falece de causas naturais e deixa mais de 500 discípulos órfãos e desamparados. A partir daí, tudo está em suas mãos, ou talvez mente, memória.
Sim, por que ninguém escreveu ou registrou nada do que foi dito em seus milhares de discursos. 
O que foi feito então!??
Segundo a tradição, logo após sua morte, foi feito um primeiro concílio onde os discípulos mais avançados discutiram como fariam para preservar os conhecimentos propagados pelo Buddha.
Concluíram que a única possibilidade era a transmissão oral de tudo o que tinha sido escutado e aprendido. 
Assim, foram eleitos três dentre eles (500) que por sua memória prodigiosa, guardaram tudo (!!??) o que escutaram em seus discursos. Suas memórias foram sendo então comprovadas por outros, conforme iam sendo ditas para todos.
Com isso, chegou-se a um consenso de três grupos de conhecimentos, cada um com informações equivalentes a 45 anos de discursos. Estes foram sendo transmitidos oralmente ao longo dos anos e dos séculos por gerações de monges.
Mas isso é praticamente um absurdo total. Alguém imaginar que se pode guardar na memória o equivalente a vários volumes enciclopédicos ou que esse conteúdo não vai se adulterar com o tempo.
Como isso pode ter sido possível!? Será que foi mesmo!?

O fato é que, a História (não a tradição) diz que após 500 a 600 anos mais ou menos, surgiram as primeiras "escrituras", os primeiros cânones budistas, o primeiro conjunto total dos ensinamentos registrados. 
Surgem também as primeiras biografias do Buddha e do Budismo. Ou seja, eles aparecem mais ou menos na época de Jesus. A partir dessa época eles vão sendo comentados, refletidos e re-escritos em vários idiomas.

Mas a questão é: seriam esses ensinamentos algo sério, com conteúdo e consistência filosóficos, à prova do tempo, das culturas, das guerras, dos reis, dos bárbaros, dos acadêmicos, dos intelectuais, dos eruditos ou seriam algo confuso, distorcido, e com sentido perdido ao longo dos mais de 500 anos de transmissão oral!!? 

A resposta, pasmem senhoras e senhores, é sim, há uma consistência, uma coerência e uma lógica que não podem ser refutados. Mesmo em nossa sociedade super materialista, hedonista, irônica e cética.
Apesar disso tudo e do meu próprio ceticismo (inicial), os ensinamentos do Buddha estão aí sendo admirados e estudados por filósofos, psicólogos, psicanalistas, psiquiatras, historiadores, acadêmicos em geral e pelo povo comum.
Por muitos que buscam (em comum) um caminho, uma solução para suas agonias interiores, suas vidas ignorantes de sofrimento, de excessos, de distrações, de apegos, de medos, de raivas, de ódios, de preconceitos, de falta de amor para dar, de falta de amor recebido, enfim de falta ou de excesso.

Para quem se interessar, lá estão eles, seus ensinamentos, sobreviventes por tantos séculos, através de tantos acontecimentos nefastos e problemas que ocorreram em vários dos países em que ele (o budismo) se encontra enraizado.
Esse é um fato. Um fato histórico, não se pode negar. Como pode acontecer, não sei. Só posso conjecturar que precisou da ajuda e do trabalho de muitas (milhares) de pessoas que, com amor, esforço, disciplina, fé, foco, sabedoria e persistência, venceram o impossível.

É por aqui que eu fico, que eu paro.
Espero um dia poder compreender!!

Beijos, paz e amor a todos.