domingo, 29 de agosto de 2010

Uma experiência qualquer

Ouvindo Klauss Schulze, música eletrônica da gema, além de germânica. Sempre climática e viajante, o que para um quase pisciano satisfaz a todos os sentidos.
Mas a vida segue e nós junto no seu fluxo rumo ao destino misterioso, que no fundo é o mais importante de tudo.
Foi certamente após 1955, porque ele já sabia andar cambaleando, porém com desenvoltura. Vivia sua vidinha conforme mandava sua alma. Não estava muito afastado dela ainda, embora já tivesse passado por uma experiência traumatizante aos dois ou três meses de vida. 
Uma daquelas que se vive nos hospitais, quando as feições dos médicos e dos pais demonstram dúvida e medo quanto ao destino do paciente. Mas ele passou por essa sem "muitos" arranhões físicos.
Não fosse sua mãe, teria tido o mesmo destino de seu irmão mais velho, falecido aos três meses.
O fato importante porém, nesta história, é que lá estava ele todo feliz e contente em sua empolgação limitada, ao lado de sua querida mãe e seus amigos numa reunião de famílias ao ar livre.
O tempo estava quente, havia um céu azul bonito com sol e sem nuvens. O cenário era bonito, junto à natureza, com direito a várias árvores, arbustos, vegetação rasteira e uma lagoa. 
Para ele, o mais bonito era a lagoa, uma quantidade de agua nunca vista e uma beleza misteriosa e sua forma variável e seus reflexos brilhantes pelos raios solares. A lagoa lhe era desconhecida, não sabia "como funcionava".
Já tinha chegado perto dela com sua mãe e visto que era de água, mas diferente daquela que conhecia e que bebia. Esta era esverdeada e turva, não permitindo que seus profundos mistérios fossem expostos. 
Isso, naturalmente, mexeu com ele, intrépido aventureiro que já tinha feito mil e uma para descobrir os porques e os comos. 
Assim que, de repente, ele se viu andando rumo à lagoa, porém agora sozinho. Sua mãe havia lhe dito para não faze-lo porque podia ser perigoso, mas o que seria isso!! Era preciso descobrir.
Por algum motivo cósmico, ninguém estava olhando, distraídos pela conversa e a alegria natural do encontro entre amigos, principalmente ao ar livre.
Portanto, lá vai nosso amiguinho, já com seus 3 aninhos ou anões, caminhando célere e arteiro rumo ao seu destino de descobridor,  de pioneiro, rumo ao desconhecido.
Ao entrar com seu pésinho na água, sentiu-se molhado e refrescado. Gostou e foi mais um pouco, movido pelo encantamento. Deu mais três passos, olhou os lados, sentiu suas canelinhas molhadas e refrescadas e gostou ainda mais.
Querendo mais, foi mais um pouco, mais um pouco e....., de repente, seu pé não sentiu mais o fundo da lagoa. Perdeu o equilíbrio e afundou com tudo.
Primeiro foi até divertido, pois afundou completamente e se molhou por inteiro. Estava surpreso, mas até então empolgado e alegre. 
Mas bastaram alguns segundos nesse estado para começar a beber água e a lutar para voltar. Queria voltar, a brincadeira já não estava mais interessante. Por mais que se debatesse com suas roupas molhadas e pesadas e sua falta de coordenação, não conseguia nada a não ser se cansar.
Começou a ficar nervoso, com medo e descontrolado. Sua força de vontade não o ajudava mais em nada. Sua ignorância das coisas também não!
Assim foi que se cansando mais e mais, foi afundando e afundando enquanto a luz solar que penetrava alguns metros foi ficando cada vez mais esmaecida.
O mundo lá fora foi ficando cada vez mais distante, os ruídos externos desaparecendo e o silêncio da lagoa prevalecendo cada vez mais.
Já estava num tal estado em que o descontrole e o medo, que já não ajudavam fazia tempo, começavam também a diminuir, a desaparecer. Foi aparecendo então uma outra sensação, uma de uma certa tranqüilidade, de amortecimento dos sentidos, de paz total. De harmonia com o ambiente aquoso. Estava indo embora desse mundo e estava, agora, gostando. Estava até querendo, ansiando. Aquela luz do sol, agora lhe parecia algo mais, algo mais coerente, focado, chamante.
Estava indo para ela e era o que queria agora. 
Foram apenas segundos, porém para ele durou mais com certeza. Sua atenção ao momento presente foi multiplicada por 100 ou 1000. 
Lá estava ele quase curtindo sua partida deste mundo, quando algo grande e poderoso lhe apanhou pelos cabelos e o puxou rapidamente para cima.  De volta para a vida neste mundo. 
Tossiu muito, cuspiu bastante água para fora de si. Foi o preço da viagem de quase morte. Ouviu muita gente falando com ele, algumas pessoas chorando, mas sentiu que estava bem. E estava de volta para esse mundo e melhor, de volta para o colo de sua mãe.
Naquela época, não tinha coisa melhor. Foi se acalmando e tudo voltou ao normal. As aflições e os medos ficaram para traz, ele voltou a este mundo.
Mas não esqueceu da experiência, de tudo o que vivenciou e sentiu. Só ele sabe o que passou, o que sentiu e o que lhe ficou em sua alma. A presença ea força de sua mãe, e seu amor por ela ficaram gravados eternamente.
Ele ainda hoje, 53 anos depois, ainda sonha com ela e pergunta: o que foi tudo isso? para que tudo isso?
Ele não sabe a resposta, só sabe as perguntas.
Ele é apenas um ser humano que quer saber, como todos.
Ele, sou EU!


bjs fra-e-ternos,

Nenhum comentário: