terça-feira, 30 de abril de 2013

Os cães latem ....

E eu noto!
À noite os sons parecem ser mais altos, intensos, perceptíveis e até preocupantes e irritantes. Só mudou o horário e os sons, na realidade, são menos intensos do que durante o dia. Há muito o que aprender ainda.
Somos seres sensíveis, às vezes demais. Nossa sensibilidade é dependente do ambiente, do horário, da temperatura, da idade e etc à parte.
Alguns fatores parecem influenciar bem mais do que outros. 
Imagino que o medo seja o maior deles. Mas a raiva e seus derivados estão bem próximos, logo atrás. Não podemos nos esquecer da inveja, do ciúme, do orgulho, da luxúria e da avareza.
A seguir, mas não menos importante vem a vontade de satisfazer nossos desejos, de todos de preferência. Por último temos a busca por segurança e por conforto (físico ou emocional), bem como a preocupação com o amanhã e o ontem. Estes 3 últimos podem ser vistos como derivados dos primeiros.

O fato é que somos muito pouco estáveis emocionalmente. Estas, resultado dos estímulos externos ou internos e de nossa sensibilidade parecem estar sempre querendo se fazer aparecer. Nos jogando ora num lado ora no outro. Às vezes parecemos um frágil barquinho num oceano tempestuoso, sendo jogados à merce da sorte.
Na dependência da próxima onda e do destino (!?).

Não é uma situação muito agradável e disso eu tenho certeza por experiência própria. Mas, o que se pode fazer a respeito? Existe algo que possa ser feito? 
Primeiro precisamos responder a uma pergunta internamente: eu quero que esse comportamento se modifique!?
Se houver o desejo, há a motivação, o estímulo interno em busca de uma resposta. Com humildade, disciplina e perseverança pode-se encontrar possibilidades de respostas.

Uma das possíveis respostas passa pelo "controle" da mente. Mas, afinal, é possível controlá-la, treiná-la!?
Dizem que sim. Duas fontes distintas e bem diferentes: a Ciência e a Sabedoria Antiga. Tanto a Neurociência e os outros cientistas da Mente, quanto algumas escolas de sabedoria antiga como o Budismo dizem ser possível e mais, dizem ser este um caminho para uma vida mais ....feliz, plena, florescente, etc.
O problema é que este aprendizado exige muito esforço, disciplina, repetição, atenção e perseverança. É um longo trabalho, de toda uma vida. Talvez mais.

Mas esta é sempre a trajetória para o aprendizado de uma nova habilidade mais complexa. Sabemos disso de várias maneiras. Portanto parece lógico e faz sentido.

Tudo começa com o treinamento e aperfeiçoamento da concentração e da atenção plena ao momento presente, ao que estamos sentindo e pensando em cada momento, mas sem julgar e sem se recriminar. Ao fazermos isso, nossa Consciência se expande, abrindo espaço para nossa maior compreensão e para nossa maior realização das coisas como elas são.

Quem acha que precisa de ajuda, que a busque humildemente. Quem acha que não precisa, espere chegar o seu momento.

Eu acredito muito nesse caminho e, embora ainda um ser humano quase-neandertal, busco humildemente trilhá-lo. Apenas como um ser infinitesimalmente pequeno dando seus primeiros passos para fora da lama.

Ao som do fabuloso Tetsu Inoue (Ambiant Otaku), mestre do Ambient Music, encerro por hoje desejando a todos muito amor, muita paz e Luz na Consciência.



terça-feira, 19 de março de 2013

Um certo ser humano!

Olá amigos humanos!

Ao som dos pingos da chuva e das teclas mágicas e sonhadoras de Harold Budd, inicio mais uma postagem. Noturna, quando os gatos são pardos, quando as certas aves vivem e lançam seus piados ora tristes, ora soturnos e quando nossos pensamentos e imagens mentais são mais palpáveis e, talvez, profundos e pessoais.

Em todo caso, era uma vez um certo ser humano. Apenas um ser humano. Será!!?
Segundo a tradição, não a História, ele nasceu na Índia, numa família nobre, poderosa e rica, há talvez 2500 anos atrás.
Seu nome era Siddhartha Gautama e sua família pertencia ao clã Sakya.
A tradição diz (mas não prova) ainda que ele teve uma vida muito boa e "feliz" dentro das propriedades de sua família. Ele teve de tudo: carinho, afeto, desejos satisfeitos, diversão, educação privilegiada e a possibilidade de uma esposa e um filho.
Seu pai, um rei, queria naturalmente que seguisse seus passos e governasse também aquela região da Índia. Assim, sua educação foi a de um príncipe e guerreiro, além de ser super protegido das "feiuras e negatividades do mundo real", sendo impedido de sair da propriedade familiar.
Mas ele, insatisfeito com sua situação de recluso e ignorante (das coisas do mundo), acabou conseguindo escapar algumas vezes (com um acompanhante) e ir cavalgar pelas cercanias da propriedade de sua família.
Ao faze-lo, notou quatro coisas que o chocaram muito: um homem velho, um homem doente, um homem morto e um homem pobre.
Esses encontros lhe deram muito o que refletir, já que nunca tinha visto nenhum tipo de sofrimento.
O fato é que, ainda segundo a tradição, algum tempo depois, aos 29 anos, ele decidiu sair para o mundo em busca de uma solução para o sofrimento humano. 
Ao fazer isso, ele abandona seu pai, sua esposa, seu filho, seu título, sua religião, sua riqueza, seu lar, sua segurança, seu conforto, enfim tudo.
Tudo foi deixado para trás. Sua vida mudou completamente e sem exageros.
A tradição diz que ele tentou durante seis anos os mais variados métodos e gurus existentes na região para conseguir seu objetivo, ou seja acabar com o seu sofrimento, com sua ignorância.
Aos trinta e cinco anos, após abandonar a tudo e a todos, sentou-se aos pés de uma figueira e lá ficou meditando. Disse a si mesmo que só iria se levantar após ter se iluminado.
E lá ficou por algum tempo (um dia, sete dias, sete semanas, !!??). Ao desabrochar do último dia, ocorreu o que ele tanto esperava, sua iluminação.

A tradição diz que ao longo de mais 45 anos Siddharta Gautama, agora o Buddha Sakyamuni (o sábio dos Sakya), viveu propagando o que aprendeu através de discursos em várias partes da região norte-nordeste da Índia.
Com o tempo arrebanhou muitos discípulos inclusive seu pai, sua esposa, seu filho e seu primo, nos vários lugares em que esteve.

Aos 80 anos aproximadamente, falece de causas naturais e deixa mais de 500 discípulos órfãos e desamparados. A partir daí, tudo está em suas mãos, ou talvez mente, memória.
Sim, por que ninguém escreveu ou registrou nada do que foi dito em seus milhares de discursos. 
O que foi feito então!??
Segundo a tradição, logo após sua morte, foi feito um primeiro concílio onde os discípulos mais avançados discutiram como fariam para preservar os conhecimentos propagados pelo Buddha.
Concluíram que a única possibilidade era a transmissão oral de tudo o que tinha sido escutado e aprendido. 
Assim, foram eleitos três dentre eles (500) que por sua memória prodigiosa, guardaram tudo (!!??) o que escutaram em seus discursos. Suas memórias foram sendo então comprovadas por outros, conforme iam sendo ditas para todos.
Com isso, chegou-se a um consenso de três grupos de conhecimentos, cada um com informações equivalentes a 45 anos de discursos. Estes foram sendo transmitidos oralmente ao longo dos anos e dos séculos por gerações de monges.
Mas isso é praticamente um absurdo total. Alguém imaginar que se pode guardar na memória o equivalente a vários volumes enciclopédicos ou que esse conteúdo não vai se adulterar com o tempo.
Como isso pode ter sido possível!? Será que foi mesmo!?

O fato é que, a História (não a tradição) diz que após 500 a 600 anos mais ou menos, surgiram as primeiras "escrituras", os primeiros cânones budistas, o primeiro conjunto total dos ensinamentos registrados. 
Surgem também as primeiras biografias do Buddha e do Budismo. Ou seja, eles aparecem mais ou menos na época de Jesus. A partir dessa época eles vão sendo comentados, refletidos e re-escritos em vários idiomas.

Mas a questão é: seriam esses ensinamentos algo sério, com conteúdo e consistência filosóficos, à prova do tempo, das culturas, das guerras, dos reis, dos bárbaros, dos acadêmicos, dos intelectuais, dos eruditos ou seriam algo confuso, distorcido, e com sentido perdido ao longo dos mais de 500 anos de transmissão oral!!? 

A resposta, pasmem senhoras e senhores, é sim, há uma consistência, uma coerência e uma lógica que não podem ser refutados. Mesmo em nossa sociedade super materialista, hedonista, irônica e cética.
Apesar disso tudo e do meu próprio ceticismo (inicial), os ensinamentos do Buddha estão aí sendo admirados e estudados por filósofos, psicólogos, psicanalistas, psiquiatras, historiadores, acadêmicos em geral e pelo povo comum.
Por muitos que buscam (em comum) um caminho, uma solução para suas agonias interiores, suas vidas ignorantes de sofrimento, de excessos, de distrações, de apegos, de medos, de raivas, de ódios, de preconceitos, de falta de amor para dar, de falta de amor recebido, enfim de falta ou de excesso.

Para quem se interessar, lá estão eles, seus ensinamentos, sobreviventes por tantos séculos, através de tantos acontecimentos nefastos e problemas que ocorreram em vários dos países em que ele (o budismo) se encontra enraizado.
Esse é um fato. Um fato histórico, não se pode negar. Como pode acontecer, não sei. Só posso conjecturar que precisou da ajuda e do trabalho de muitas (milhares) de pessoas que, com amor, esforço, disciplina, fé, foco, sabedoria e persistência, venceram o impossível.

É por aqui que eu fico, que eu paro.
Espero um dia poder compreender!!

Beijos, paz e amor a todos.



quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Sr.V

Boa tarde amigos deste universo, que agora, segundo alguns físicos, pode ser rebaixado a um mero participante de um conjunto maior denominado Multiverso. É mais um duro golpe para o nosso querido Ego. Um dia ele descansará em paz.
Ao som do inesquecível Rei Escarlate (KIng Crimson), nos seus álbuns Island e Red, escrevo algumas passagens da vida atribulada e interessante de um certo Sr. V.
Faz-se notar que os acontecimentos desta narrativa são subsequentes aos daquela intitulada "Viagem".
Façamos então da sua, a nossa viagem.



Ele sempre achou que tinha o controle de sua vida. Na verdade, sabia que isso era impossível, que estava fora do alcance dos seres humanos.
Mas, de alguma forma, o Sr.V. achava que controlava algumas coisas num certo nível, o que já lhe dava uma sensação boa. Uma sensação de certa superioridade (mas não dizia para ninguém), uma certo orgulho de que estava vivendo do jeito correto.
Enfim, ele se achava um pouco superior aos outros. Achava que já conhecia e compreendia as coisas que eram necessárias para o bem viver e o bem conviver.

No entanto, de fato já tinha vivido um bom tanto de sua vida, tinha passado por várias experiências de relacionamento e de aprendizado. Já estava entrando numa fase em que se começa a prestar mais atenção às coisas que vem de dentro, coisas que, de repente parecem assumir uma importância bem maior do que no passado.
Prestava mais atenção aos seus sentimentos, às sensações mais interiores, a alguns de seus pensamentos mais estranhos. Procurava compreende-los, descobrir algo a mais sobre o seu significado.

Era isso afinal, o significado das coisas, de tudo que lhe acontecia na vida, passou lentamente a ter mais importância,  a lhe despertar um interesse cada vez maior.
A rapidez com que a vida passava, o real sentido da vida e de sua existência passou a lhe interessar cada vez mais.
Seu modo mais natural de buscar a compreensão das coisas novas era através da profunda reflexão racional, da comparação de seus resultados com referências já existentes e da busca de informações vindas da experiência e da sabedoria de certos seres humanos que tinham alcançado reconhecida maestria.
Assim, era uma pessoa com a mente treinada para buscar suas respostas no mundo racional, filosófico e científico. 
Mas, além disso, sempre teve uma parte de si (não desenvolvida, mas forte) que lhe dizia que nem tudo era visível ou passível de compreensão com os instrumentos e estratégias racionais. Que havia algo mais além do poder do microscópio ou do telescópio.

Mas nada disso o havia preparado para as experiências que estava tendo há já algum tempo.
Já fazia algumas semanas que, querendo ou não, após adormecer, se via saindo do seu corpo físico (deixado na cama) e flutuando ou caminhando suavemente, percorria sua casa através das paredes ou das portas. Às vezes saia para fora só para ver como as coisas estavam e percebia que elas estavam do jeito que sempre estiveram, todas no mesmo lugar deixado antes.
No entanto, havia uma diferença sutil no modo como as via, ou seja, na visão que tinha das coisas físicas. Estas pareciam como normalmente aparecem em sonhos muito reais, muito vívidos. Mais vivas, coloridas ou realçadas, se é que as palavras podem descrever a realidade percebida.

Outra percepção clara era que se sentia como que mais leve ou menos denso, se é que poderia falar dessa forma. De fato, acontecia que ao dar um "pulinho", saia flutuando, podendo inclusive voar por uma certa distância.
Isso era muito desconcertante, embora maravilhoso em termos de sensação. Sua mente treinada, sua razão não conseguiam "dizer" nada, concluir nada, pois não tinham referências, não tinham como "tranquilizá-lo" à moda do "ah, isso aqui é assim por isto e por aquilo". Parecia não haver causa material ou real para aquele efeito. Podia-se apenas perceber e vivenciar os eventos, sem classificá-los ou criticá-los.
Entretanto, sabia que sua consciência estava ali presente, que sua mente era sua mente, a mesma de sempre. No entanto sua compreensão, sua atenção e seu poder de observação pareciam estar maximizados, como em estado de alerta. E não era para menos.

Até hoje ainda não tinha ido muito longe de sua casa. Ficava nas proximidades tentando explorar "o já conhecido", "o já visto", mas agora de um outro ângulo. As coisas eram as mesmas, porém as via de um modo um pouco diferente. 
E as pessoas!? Tinha tido "contatos"com as pessoas de sua casa e percebera que seus "outros corpos" (não sabia como chamá-los) também vagavam pela casa, fazendo coisas costumeiras do dia-a-dia, mas estavam como que adormecidas ou inconscientes.
Ele conversara com elas, disse-lhes para acordar e vir com ele passear lá fora, flutuar e voar até outros lugares. Mas elas ficavam como que incrédulas, indiferentes e até ranzinzas, como que amortecidas e condicionadas a fazer as coisas que sempre faziam.

Assim, percebeu que a maioria das pessoas parecia não estar experienciando esta "viagem" como ele. Será que haveria alguém mais capaz de realizar essa "viagem". Ainda não havia visto ninguém "flutuando" como ele era capaz. Mas sabia intuitivamente que deveria haver outros com a mesma "capacidade". Não sabia ainda se queria encontra-los ou não. Conversar com eles, trocar experiências parecia ser uma coisa interessante e atrativa. 
Era quase com uma outra vida, num outro papel, outro personagem. Não muito diferente, mas podendo ser diferente, apreender novos conhecimentos, ter outros relacionamentos, enfim viver uma outra realidade.
Mas esta nova realidade podia ter outras regras, outros modos de se relacionar com as coisas e com os outros seres. Teria que aprender a reconhece-los e usá-los. Poderia haver alguns limites e alguns "perigos" novos também.

Será que estava no chamado "mundo espiritual"!? Mas se estivesse, o que seria ele!? Um espírito!!? Será que veria outros espíritos!? O que o levara a aquela condição!? O que se esperava que ele fizesse!? Qual era o significado de tudo aquilo!!?
Muitas perguntas, nenhuma resposta.
Foi então que sentiu, mas do que viu, uma sombra, uma presença, uma outra consciência desperta. Sentiu um grande calafrio, mas conseguiu respirar fundo e permaneceu ali.

Aos poucos, aquela presença foi-se fazendo notar e ele foi podendo observa-la gradativamente. Com uma sombra que vai se revelando nos seus tons cinzentos, ela foi adquirindo volume e densidade, até que, por fim, estava à sua frente por inteiro.
Quando percebeu o que viu, espantou-se, mesmo tendo sido preparado. Não era para menos, pois de fato, estava diante de Si Mesmo!!

Bem, bem amigos nada permanece, tudo se transforma e nesse nosso caso, o que parece ser pode Não Ser.
Senão, vejamos...em algum momento quando a Luz incidir no ângulo correto e o pio da Coruja estiver no tom adequado, a Inspiração voltará.

Abraços de Luz e Harmonia a todos.
Que a Paz e o Amor sempre venham a seguir.

Foi-se...



quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Eu sou....(2)

Olá amigos cibernéticos, amigos buscadores.


Como sempre ouvindo algo inspirador e climático. Desta vez, os ótimos Harold Budd & Robin Guthrie no álbum Bordeaux. Maravilhas típicas do Nirvana.

É uma linda tarde desse nosso inverno generoso. A temperatura é amena, o céu está aberto e lindamente azul. Eu diria um ótimo dia para a prática da vida.
É, mas aqui estou eu (ou EU) meio que sonolento e algo letárgico. Aquela sensação gostosa de "me deixe aqui que estou curtindo uma molezinha". 

É aquela preguicinha, que todo o mundo (sem exagero!!) reconhece. É uma das características mais unânimes do gênero humano. 
Naturalmente, como sempre, o que falo aqui tem relação com a minha própria experiência. Então, trata-se da minha preguiça, da minha moleza, da minha inércia em iniciar e persistir nas atividades. 
A preguiça me pega física ou mentalmente. Torna difícil qualquer início de nova atividade, principalmente se for (vista por mim como) um desafio. Sempre que há um esforço a ser colocado em alguma atividade, ou que é necessária uma persistência e uma disciplina, lá está ela me perturbando a cabeça.

"Prá que fazer isso!!? Não precisa fazer mais, pode parar! Chi, isso está muito difícil! Acho que vou fazer algo mais fácil!"

A Filosofia, a Religião e a Ciência já falaram da preguiça/inércia de uma forma ou de outra. 
A última, através de Newton (um dos seus maiores Gênios), definiu a Inércia como sendo a característica que toda a matéria (tudo que tem massa ou átomos, ou seja, TUDO) tem, de permanecer no estado em que se encontra. E, de preferência num estado de mínima energia necessária para se estar.
A famosa lei do Mínimo Esforço, conhecem não é!!?
E, para sair desse estado, é preciso que uma certa força (energia) seja exercida (interna ou externamente) na matéria. E quanto maior a sua massa, maior será a força necessária para move-la.
Faz sentido, não faz!!? Conhecemos e aceitamos essa definição intuitivamente, certo!?

Já a Filosofia/Religião definiu algo chamado de Acídia, que seria mais geral do que a preguiça pois sua atuação de nos manter parados ou alheios (inconscientes, apáticos) se aplica a todos os níveis de atuação humana, ou seja, físico, mental, psicológico e espiritual.
Ou seja, você não se liga em nada, não pensa com atenção focada em nada, não quer fazer nada que exija um mínimo de esforço/disciplina e prefere ficar quieto onde está.

Esse estado (tornando-se um modo de vida) pode levar à letargia, ao embotamento mental, à superficialidade, à confusão mental, à falta de educação, à falta de consideração e respeito com o outro, à busca insaciável de prazer ou de paixão, à lei do mínimo esforço como plano de vida, à melancolia, ao vazio total e à depressão. 

Ou seja, trata-se de um estado bem pernicioso e bastante forte e arraigado ao interior humano. É forte no ser humano e na natureza, porque por fim tudo tende à aparente desordem e transformação final.
E também porque a nossa tendência final é a lentidão dos processos interiores e exteriores até chegar à parada total (morte). Portanto, a parada está lá dentro de nós latente, em potencial.

Mas, antes de lá chegarmos, há muito que viver, que ver, que aprender, que criar, que amar, que Ser, que Estar, etc, etc. Mas, para que tudo isso possa acontecer, temos que vencer diariamente a nossa conhecida tendência natural.

No caso da minha preguiça, conheço bem quando ela começa a agir e qual é o seu processo de desenvolvimento. Às vezes eu luto (esforço, disciplina, energia) e a venço. Às vezes, eu me deixo levar pelas ondas do ócio.
Como diriam muitos (eu mesmo...), é assim mesmo, não esquenta não, está tudo certo, etc. Pode ser que sim, mas eu acho que sempre ou como modo de vida não está certo não. Aliás creio que tem de ser o oposto.
Acredito que devemos nos manter alertas, atentos, conscientes e buscadores do significado do momento. De cada um deles. Cada um deles, como já se disse mil vezes, é único e precioso. Além de potencialmente infinito em tudo.

O significado do momento é tudo o que temos neste mundo e ele pode nos levar à nossa realização maior, nossa Individuação, nossa Iluminação, ou o que quer seja.
Sabemos disso porque existem exemplos de seres bem acima da média desde sempre à nossa volta em todos os aspectos, físico, mental e espiritual.
Para isso, naturalmente, precisamos nos esforçar sempre, buscarmos a disciplina e o treinamento da mente no sentido da consciência desperta, do melhor a ser feito, do mais correto e ético, do mais generoso e amoroso.

Mas, eu faço isso!?? Não sempre. Não sempre!!? Então, talvez na maioria das vezes!? Também creio que não! Não consigo, não me é possível ainda. Não consigo nem forçando a barra.

Vigiar, meditar, trabalhar e esperar. Só esse mantra resolve a questão da vida enquanto evolução/expansão da consciência.

Portanto há uma busca a ser feita. Não nos enganemos. Ela existe mesmo. Se não for agora, terá que ser na outra volta do parafuso.

Bem, bem, bem amiguinhos, isso é apenas o que eu (não tão humildemente) penso e vivo.

É grande a minha satisfação em poder me expressar dessa forma para vocês. 
Um grande abraço, amoroso e caloroso, a todos.

Deixo com vocês um presente na imagem abaixo, uma das mais lindas que já fiz. Que expressa a pureza, a delicadeza, a beleza e o amor da Vida. Da vidinha no caso.


Paz profunda e amor a todos vocês meus amigos.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Eu Sou...

Oi gente boa, companheiros destes momentos neste mundo.
Estamos por aqui e aqui ficaremos até um dia. Aproveitemos as maravilhas que se nos apresentam. Aproveitemos até os desafios e os momentos difíceis, porque eles acontecem para nós. Deve ser algum tipo de privilégio, no mínimo.
Ao som desse sempre fantástico "Cocteau Twins" inicio esta postagem. Há quem goste de seu som etéreo, climático, feito com uma cascata de guitarras, teclados e a linda voz da Liz Fraser. 

Mas, como diz o título, eu sou...
Eu sou um ser humano. Pelo menos é o que dizem por aí há já algum tempo.
Muita gente disse e diz que somos seres humanos. Até que somos o Homo Sapiens. 
Bom, é uma questão de opinião. Ou de teoria, hipótese científica de trabalho.
Eu acho que nós estamos mais para sermos o Elo Perdido. Em todo caso eu não sou antropólogo. Disso tenho certeza.

Tenho mais algumas indicações fortes sobre o que eu sou. Ou o que eu estou.
Eu sou orgulhoso. Não tenho dúvida. Não tenham dúvidas. Meu orgulho ultrapassa o limite da dúvida.
Sim, minha gente não se surpreendam, não digam que não, pois isso eu sei que sou. E tenho orgulho disso. Viu!!
O orgulho é a característica mais forte e mantenedora do EGO. O meu está bem nutrido, pois sei que: penso, logo meu EGO existe!
Tendo lutado com Ele durante muito tempo, passei a olhá-Lo com outros olhos. Ele é parte de mim, compõe minha natureza profunda (mas nem tanto!) e mantem minha psique levemente saudável e satisfeita. Por que ir contra, lutar, combater algo nosso.
Deve haver outra saída...E certamente há. E deve passar pela aceitação inicial.

Mas, de qualquer forma, lá está Ele em toda sua omnipresença e potência. Ele aparece quase sempre. Hoje, acho que sei identificá-lo. De fato, não sei exatamente quando Ele não aparece. Acredito que tal fato possa acontecer em momentos de grande pureza de alma, de sentimentos elevados e de perda da identidade, da individualidade. Como quando realizamos algum trabalho artístico/criativo de grande intensidade emocional, grande autenticidade.
Em momentos de reflexão profunda e humilde, de meditação real. De fato, não são momentos muito frequentes em minha vida.

De resto, nos momentos onde imperam a competitividade, a necessidade de aparecer, de mostrar alguma competência para os outros ou quando estou num grupo de pessoas quaisquer por qualquer motivo, ou quando tenho que desempenhar algum papel  desafiante, lá está Ele me "ajudando" a Ser o que não exatamente Sou. Quando minha auto estima e minha auto confiança estão em jogo, lá está Ele novamente.

Muitas vezes, Ele apareceu como um amigo do peito me "salvando" nas piores situações. Eu o tive como aliado forte e confiável por muito tempo. Depois, eu comecei a perceber quem Ele estava "salvando" exatamente. Não era eu de fato, mas sim meu EGO.

Meu orgulho tem vários perfis. Ele é muito esperto. Ele não se desgasta, não exagera (muitas vezes) e é muito educado, dedicado e persistente. Claro, ele quer permanecer, continuar a existir. Ou, por outro lado, meu EGO quer.

Ás vezes (não muitas!), é como uma criancinha, pura e inocente. É quando eu alcanço algum pequeno objetivo pessoal, consigo realizar alguma descoberta ou entender algo levemente difícil. Então eu digo: olha só que legal, eu consegui! Há uma mistura de sentimentos, puro júbilo e alegria com uma pitadinha "eu sabia que conseguiria", ou seja, Ele no fundo. 

Em outras ocasiões (várias!), ele é como um adolescente, como algo cheio de energia, difícil de controlar e levemente (!?) explosivo, impulso. Nessas ocasiões, além dos tradicionais sentimentos do tipo "eu sou superior", "eu não faria assim", "também, como é que pode, né!", ele pode gerar julgamentos, críticas, preconceitos, ironias, raiva, teimosia e subterfúgios. 
Aqui neste perfil, Ele é bastante poderoso e imprevisível. Aqui Ele estabelece seu controle com maestria e força.

Outro perfil aparece (algumas vezes!) quando Ele se insinua como um velho sábio. Sua atuação aqui é magistral, pois está mascarado pela "experiência" da idade e pela pretensa sabedoria. Sou pego muitas vezes em flagrante delito neste perfil ultimamente. "Você não sabia, mas eu medito!". "Eu já vivo o momento presente!" " Meu Deus, isso eu já sei!!" "Ai meu Deus, como é que ele não entendeu ainda!?"
E com muito orgulho.

Sim meus amigos, Seu poder é grande e sua atuação é insidiosa, silenciosa e eficiente. 

Às vezes, naturalmente, Ele exagera e as coisas saem dos trilhos (!!) e aí a Arrogância e a Humilhação aparecem breve mas poderosamente. Esse é o pior perfil.

Seu poder de controle e manipulação é hipnótico e viciante. Não há escapatória. Assim, convivo com Ele. Acho que aprendi a aceitá-lo de alguma forma.
Atrevo-me a dizer que consigo percebê-lo em ação várias vezes, que posso identificá-lo em algumas situações, onde então, procuro relativizar, contemporizar e suavizar sua atuação.
Já percebi que Ele parece que desaparece em algumas situações, principalmente aquelas em que sou mais sincero, inocente, humilde, simples e livre de expectativas. Situações onde sinto que não preciso provar nada para ninguém, onde não sinto pressão alguma. Situações onde meu Real Amor consegue se expressar em toda sua inteireza.

Na minha interação com a Belinha (minha cadelinha Teckel), muitas vezes essa situação ocorre, pois não há pressão, julgamento ou expectativa da parte dela e todo sentimento que sinto naqueles momentos são intensos, inocentes, sinceros e incondicionalmente recebidos por ela.

Talvez mais alguns séculos ou passagens neste mundo possam fazer com que esta energia poderosa possa ser controlada ou canalizada de uma forma menos estressante e mais positiva.

Amigos, eu sou orgulhoso, eu estou orgulhoso. Eu aceito isso. Afinal, eu sei que é passageiro. 
Afinal, eu sou um Ser Humano! Caminhando rumo ao infinito da Perfeição, através do infinito de cada momento.

Que a Paz profunda e a Harmonia Cósmica estejam sempre entre Nós.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Viagem

Olá amigos do coração! Aqui mais uma vez com algumas palavras que talvez façam algum sentido em algumas cabeças.
Embalado pelo som ambiente de Jean Michel Jarré (Geometry of Love), este já sessentão músico especialista em música climática, escrevo este registro com algumas reflexões que, senão completamente verdadeiras, bem próximas de alguma verdade, com certeza, estão.
Como se diz em alguns textos, a ficção é uma invenção da falta de imaginação.
Assim sendo, ....


De repente ele acordou. Mais uma vez, como já acontecia há algum tempo, com aquela sensação esquisita de sonho e realidade. Estava desperto, tinha certeza, pois percebia todos os sentidos em alerta. Ainda sentia aquela sensação de que algo diferente do "normal" estava ocorrendo. 
Era uma noite escura, sem lua, mas aos poucos, se acostumando com a falta de luz, seus olhos começaram a enxergar melhor.


Curiosamente estava sentado em sua cama, com as pernas esticadas. Ficou surpreso, mas não muito, pois não era a primeira vez.
Começou a observar os detalhes de seu quarto aparecendo lentamente e cada vez com mais definição. Ali estavam o chão de madeira, seu computador de mesa, seu teclado e sua cadeira de trabalho, próxima à sua escrivaninha.
Sua mente então, começou a lhe jogar alguns pensamentos esporádicos e erráticos, mas ele não queria focar neles, apenas curtir o momento. Senti-lo. 
Já havia passado por aquilo e não queria estraga-lo deixando o medo ou a ansiedade se apossarem dele. Ele já conseguia controlá-los um pouco.


Então, com um pouco de receio, lentamente começou a se virar para trás com as mãos apoiadas e as pernas esticadas em seu colchão. Foi identificando as coisas que sabia que iria ver, seu teclado, a luminária no criado-mudo, o rádio-relógio e seus números piscando em verde, seu armário de livros e, finalmente, seu travesseiro.
Então, sentindo um frio característico na barriga, percebeu (novamente) que seu travesseiro não estava sozinho, havia algo mais lá. Algo que não conseguiu identificar de imediato.


Após o choque inicial, foi identificando cada vez mais que apoiado sobre seu travesseiro repousava suave e tranquilamente, nada menos do que sua cabeça com seus olhos fechados, seu semblante tranquilo e sua boca semi-aberta respirando tranquilamente.
Sua cabeça e seu tronco, apareciam deitados atrás de si mesmo no colchão. 
Mas como!!?? Era sempre a questão que explodia em sua mente. Não deu bola para ela. Deixou que as coisas fluíssem naturalmente. Seu coração começou a diminuir seu ritmo e a tensão em seus músculos do pescoço começou a suavizar.
Como já havia passado por aquilo antes, conseguiu se manter equilibrado, mais ou menos tranquilo, evitando a saída brusca daquele "estado".


Vibrou internamente um pouco, com sua vitória. Tinha "saído" mais uma vez e agora se preparava mentalmente para dar os próximos passos.
Não sabia o que podia fazer ou o que iria acontecer. Tentou fazer o mais simples, sair da cama, dar alguns passos.
Ao pressionar as mãos no colchão para tentar se mexer e girar as pernas, sentiu uma coisa estranha. A força que fez para sair dali foi desproporcional e suas mãos "afundaram" um pouco no colchão, fazendo com que perdesse o equilíbrio momentaneamente.
Levou um pequeno susto, mas suficiente para seu coração disparar e sua barriga sentir. Esperou um pouco e respirou fundo lentamente algumas vezes. Se recuperou e pensou que tinha que estar atento àquele tipo de coisa, pois era provável que acontecesse novamente e ele não queria se perder novamente.


Conseguiu finalmente se girar com as pernas e colocar os pés no chão. Ao faze-lo, sentiu-se como que se "descolando" de suas pernas. A sensação de "descolamento" foi como uma mistura de formigamento com uma variação térmica, de quente para frio. Tremeu um pouco, mas conseguiu sair. Era algo novo e muito estranho, como todo o resto. 
O chão estava frio, portanto sentia mais ou menos as mesmas sensações, concluiu apressadamente. Ficou ali sentado um pouco olhando tudo à sua volta para ver se era mesmo o seu quarto. O que viu lhe deu a impressão exata de que sim, aquele era seu quarto.
Tentou se levantar vagarosamente, sem muita força. Ergueu-se um pouco desequilibrado, mas conseguiu ficar ereto. Ao observar ao seu redor, olhou para sua cama e viu claramente que sim, "aquele" na sua cama deitado era ele mesmo. Ele agora era composto de dois "corpos". Ocorreu-lhe, então, uma questão estranha, como e onde estava sua consciência??! Aqui, ali, acordada, desperta ou adormecida!!
Muito estranho, completamente irreal. No entanto, tinha certeza de que estava acordado, consciente. Essa sensação era forte, clara e bastante intensa. Agora que tinha pensado nisso, percebeu que sua mente estava de um jeito um pouco diferente do que sempre. Mais atenta, mais focada e mais clara. Talvez fosse a "adrenalina" do momento.


Decidiu se movimentar um pouco. Começou a girar seus braços em torno de si mesmo de um lado para o outro, com as pernas fixas no chão. Era como um exercício de criança. Sentiu mais uma vez sua leveza, a frescura do ar e começou a adquirir o controle sobre a força devida para realizar esta tarefa. Ficou feliz por sua pequena vitória.
Começou então a caminhar pelo quarto, sempre lentamente, como que reaprendendo. 
Estava ficando mais entusiasmado e tranquilo e queria explorar mais. Pensou que podia andar pela casa ou até sair dela. Essa foi uma ideia muito empolgante e, ao mesmo tempo, amedrontadora para ele. 
O que iria encontrar lá fora? Pessoas como ele, fazendo o mesmo!? E os que estavam apenas dormindo, como se mostrariam!? Tinha muitas perguntas em sua mente.
Decidiu sair do quarto, dar uma volta interna, ver sua família.
Andou resolutamente até a porta, talvez com muita força para as novas condições. Quando foi pegar na maçaneta, seu impulso foi muito intenso e o movimento de sua mão fez com que ela passasse pela maçaneta e pela porta.
Na verdade, sua desapareceu por completo, pois tinha atravessado a porta. Ao se ver com uma parte do braço visível e a outra (sua mão) invisível levou um susto muito grande. Seu coração disparou, sua nuca arrepiou, sua respiração travou e....ele voltou.


Despertou em sua cama novamente, como de um sobressalto, uma queda livre, um pouco tremulo. Tentou se acalmar e começou a entender o que tinha acontecido.
Ele tinha voltado antes do momento que queria, pois tinha levado um susto grande.
Mas ele tinha saído, tinha conseguido. Aquela era uma nova realidade. E ele iria explorá-la novamente com certeza.


Agradeceu mais uma vez esta oportunidade de tirar um pouco o Véu de seus olhos. Relaxou um pouco e tentou dormir novamente.
Não sabia se ainda iria voltar hoje ou não, mas não importava mais. Já sabia que conseguiria novamente.


Bom, bom, bom amigos esta foi uma história do Sr.V. E ele vai voltar, porque tudo volta e porque eu quero.
A realidade é uma coisa muito estranha. Muitas vezes temos certeza de algo, enquanto que em outras situações aquela certeza se desvanece completamente. De certo só existe o momento, o resto é o imponderável.


Paz, amor e Luz a todos nós neste novo ano.







segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Transformações

São 14:33, o sol está presente com intensidade de verão, embora no inverno. A belíssima música de Harold Budd & Clive Wright (pensive aphrodite) ilumina o caminho e constrói o clima que propicia a vida introspectiva.
Neste nosso mundo, uma de nossas percepções mais profundas e marcantes é a de que tudo tem um começo e um fim. 
É uma percepção que vai sendo construída ao longo de nossas vidas, conforme vamos prestando mais atenção aos acontecimentos ao nosso entorno e às pessoas de nossa convivência.
Ela vai aparecendo com força cada vez maior conforme a maturidade e a consciência das coisas sutis vai chegando.
Ela nos mostra a impermanência material, mas também, num outro nível, nos mostra a transformação de uma coisa em outra. 
Por que na natureza, aparentemente, nada desaparece, tudo muda constantemente e se transforma em algo diferente, que vai servir para algum propósito.

Assim, era uma vez um ser que habitava um mundo do qual muito gostava e no qual se sentia muito feliz, muito seguro, muito aconchegado.
Não havia nada neste mundo que o fizesse infeliz, insatisfeito, ansioso e, muito menos amedrontado. A temperatura era sempre amena, sua fome e sede sempre saciadas e ele era livre para ir e vir dentro de seus limites.
Era como se estivesse no paraíso, num lugar onde não havia nada para ameaça-lo, desafia-lo ou pressiona-lo.
Ele podia pensar, meditar, se movimentar e realizar à vontade. Podia ser plenamente o tempo todo. Vivia no presente naturalmente.
Se sentia confortável, aconchegado, acarinhado e amado sempre. Era um mundo (quase) perfeito. Mas ele tinha uma consciência, uma percepção das coisas e ela se aprofundava com o tempo. 

De repente, percebeu que existia, que estava ali há algum tempo e isso lhe deu a auto-consciência e a semente de uma dúvida.
Não sabia de onde tinha vindo nem para onde estava indo. Não sabia quanto tempo aquilo iria durar. Essas reflexões começaram a ganhar força e ele começou a se aprofundar nelas, a se preocupar. 
Não queria sair dali, queria ficar para sempre. Isso gerou uma certa apreensão, que se transformou em ansiedade e medo.

Começou a sentir movimentos e variações externas que não existiam antes. De repente, o ambiente começou a ficar "pequeno", estreito. Começou a incomodá-lo levemente.
O que é isso, pensou. Estava tudo tão bom! O que está acontecendo!? Eu não compreendo, estou me sentindo diferente, incomodado.
Começou a aparecer um sentimento de urgência no "ar", um sentimento de "algo prestes a acontecer".
Mas, mesmo com todos esses sentimentos e preocupações, quando conseguia ir mais fundo em seu ser, como costumava fazer antes, ele ainda percebia aquele entorno de carinho, de amor e de segurança. 
E isso lhe dava sempre uma sensação de alívio e de esperança de que "o que estava por acontecer era algo bom".

Após mais algum tempo, sensação que ele não tinha antes, percebeu que não era mais possível estar bem, ficar em seu ser, na plenitude. 
Os movimentos e variações das condições ambientais começaram a ficar muito extremas. Seu mundo, seu paraíso se tornou um Caos e não era possível mais permanecer. Era preciso mudar, buscar um outro lugar, uma nova morada, um outro refúgio, uma outra vida.
Sua apreensão aumentou bastante e percebeu claramente, intensamente, que algo grande e amedrontador estava "acontecendo".
Oh meu Deus, o que é isso!? Estou sendo empurrado, pressionado, sinto dor. Para onde estou indo, para onde!!? Quando isto vai parar.

Quando achou que não aguentava mais, sentiu todos os movimentos e pressões aumentaram e muito. Sentiu-se levado por alguma "força desconhecida"!!
Estava indo contra a vontade, mas ao mesmo tempo querendo. 
Percebeu então uma mudança na temperatura, para mais frio. Outra mudança na luz, uma luz muito forte começou a aparecer. Era o prenuncio da mudança, sentiu.
Após muita luta e esforço, sentiu-se saindo por uma "porta", uma abertura. Primeiro sua cabeça, depois seus ombros e braços e, então suas pernas. A dor era grande, os sentidos estavam totalmente em alerta.
Queria continuar a viver, seu instinto o ajudava.

De repente, sentiu-se apanhado e seguro. Por mãos como as suas, porém maiores.
Foi colocado em cima de algo grande e quente.
Percebeu que era bom, era aconchegante. Havia amor, mas de forma diferente. Sentiu-se abraçado, acarinhado e seguro.
Ficou um pouco mais tranquilo. Sabia que estava em um outro mundo. Que era diferente do seu, do qual já nem sentia mais falta.
Achava que poderia se dar bem ali também. mas precisava aprender novamente como sobreviver, como amar, como meditar, como ser pleno neste novo mundo.
Achava que teria ajuda daquelas mãos macias, delicadas e amorosas que o abraçavam.

Neste momento, sua passagem, sua transformação se completou e uma nova vida se iniciou neste nosso mundo impermanente, perigoso, desafiador e amoroso.

Amigos, que a paz profunda de seu interior possa ser alcançada em suas meditações.

Beijos fraternos e eternos.